Stabile (à esq.) e Martins, em serviço, foram revistados pela PM-SP em “busca de ilícitos” (Foto: Rogério de Santi/Ponte.Jornalismo.org) |
"O
repórter Arthur Stabile , da Ponte Jornalismo, e o repórter
fotográfico Lucas Martins, dos Jornalistas Livres,foram revistados
pela PM-SP em “busca de ilícitos” . Daniel Teixeira, do
Estadão, foi agredido com um golpe de cassetete nas costelas, mesmo
se identificando como jornalista"
“Em
um país onde o presidente da República faz da liberdade de imprensa
e do exercício profissional do jornalismo seus alvos preferenciais,
os “guardas da esquina” do governador João Dória sentiram-se
empoderados a usar o arbítrio contra os jornalistas que cobriam as
manifestações contra o aumento das passagens na cidade de São
Paulo.
Na
quinta-feira (09/01) a Polícia Militar do governador João Dória
impediu o trabalho de jornalistas quando estes registravam agressões
aos manifestantes do Movimento Passe-Livre (MPL), com agressões
físicas, detenções e revistas, corporal e de suas mochilas, em
busca de “ilícitos”.
Com
a desculpa da necessidade de revistá-los, a PM impediu, no início
da manifestação, na Praça da Sé, o trabalho do repórter Arthur
Stabile, da Ponte
Jornalismo,
e o repórter fotográfico Lucas Martins, do Jornalistas
Livres.
Na
repressão ao ato, o repórter fotográfico Daniel Teixeira, do
jornal O
Estado de S.Paulo,
levou um golpe de cassetete nas costelas, mesmo carregando a câmera
nas mãos, e devidamente identificado como jornalista.
“Eu
estava de costas fotografando quando senti a pancada. Eu não sabia o
que tinha me atingido até que um colega me contou que viu um
policial me dar um golpe com o cassetete. Como tudo aconteceu muito
rápido, do início do confronto até a dispersão, eu sequer olhei
para trás pra saber o que tinha me acertado, eu estava muito
concentrado no que estava acontecendo”, conta Teixeira.
Outro
repórter fotográfico, freelancer, foi atingido por uma bomba de gás
nas costas, mas não sofreu ferimentos.
Enquanto
os revistavam à procura dos “ilícitos” os policiais militares
questionaram Stábile e Martins se usavam drogas e se tinham algum
problema com a Justiça.
Mesmo
com suas credenciais e identificação, seus documentos foram levados
para a chamada “checagem” no sistema online da polícia.
“Foi
um cerceamento de um trabalho de imprensa”, disse Stabile ao
Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo (SJSP).
Repórter-fotográfico
preso para
averiguações
Na
terça-feira (07/01), o repórter-fotográfico Rodrigo Zaim Pereira
foi preso “para averiguações” pela mesma Polícia Militar em
outra manifestação pública contra o aumento das passagens de
ônibus na capital paulista.
Esta
prisão foi repudiada pela Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj) e pelo SJSP como consta do site do sindicato.
De
acordo com Pereira, o ato já estava disperso quando a chuva começou
e fez com que os manifestantes se abrigassem na estação de metrô.
Com
o aumento da chuva e o acúmulo de manifestantes, a polícia entrou
na estação fazendo formação de escudo e avançando em direção à
catraca para impedir que os manifestantes chegassem à plataforma.
Por
estar junto aos manifestantes, o fotojornalista cumpriu a ordem e,
após verificação dos policiais, foi levado para a delegacia
juntamente com os demais manifestantes. Na delegacia, Pereira foi
fichado assim como os demais presos e depois liberado sem assinar
nenhum documento.
A
prisão, como denunciou o presidente do SJSP, é ilegal, além de ser
um ato que atenta contra a liberdade de imprensa e a democracia.
“Infelizmente,
o que vemos mais uma vez é a truculência da Polícia Militar no
trato dos movimentos sociais e com a imprensa. Nossas entidades lutam
permanentemente para coibir a violência e garantir o exercício
profissional”, declarou o presidente do SJSP e vice-presidente da
Fenaj, Paulo Zocchi.
Nas
duas ocasiões, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São
Paulo, liderada pelo general João Camilo Pires de Campos, não se
manifestou sobre agressões e prisões de jornalistas identificados
com crachá durante a cobertura dos atos contra o aumento das
passagens.
Fenaj
e Sindicato cobram providências de Doria
O
SJSP e a FENAJ exigem do governo do Estado, comandando por João
Doria, o respeito da PM ao exercício profissional dos jornalistas,
que têm se tornado alvos de tratamento hostil.
Os
jornalistas denunciam que nesses dois atos a PM vem atuando com
especial atenção à imprensa, com abordagens direcionadas
especificamente aos profissionais da imprensa, na tentativa de
intimidá-los e censurar a cobertura.
A
hostilidade inclui colocar o cinegrafista da PM para filmar os
jornalistas, em vários momentos das manifestações. Não se sabe o
que é feito com essas imagens.
O
SJSP orienta aos jornalistas que, em caso de violência, registrem
Boletim de Ocorrência em uma delegacia da Polícia Civil próxima ao
local da agressão.
O
registro é fundamental para possibilitar a responsabilização dos
autores, documentar a agressão contra o trabalho da imprensa e dar
mais elementos para cobrar dos órgãos competentes a garantia do
direito ao trabalho dos profissionais de imprensa.”
Fonte:
ABI- Associação Brasileira de Imprensa
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