O
Brasil foi o último país a ter a Comissão da Verdade
Por
Poder 360
“O presidente Jair
Bolsonaro disse nesta 3ª feira (30.jul.2019) não acreditar na
Comissão da Verdade, que investigou violações de direitos humanos
no período da ditadura militar. “Você acredita em Comissão
da Verdade? Qual foi a composição da comissão da verdade, foram 7
pessoas indicadas por quem? Pela Dilma”, falou a jornalistas após
café da manhã no Palácio da Alvorada com o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Comentário foi feito um dia após Bolsonaro afirmar que o pai de Felipe Santa Cruz,
presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), teria sido morto
em 1974 pelo grupo de combate à ditadura Ação Popular, ao qual
pertencia – e não pelo governo militar. O presidente afirmou que
Santa Cruz “não vai querer saber a verdade” sobre o
desaparecimento do pai.
Questionado sobre a ação
no STF iniciada pelo presidente da ordem, Bolsonaro disse que é
“direito dele”. Falou ainda que não tem documentos que embasem o
que comentou na 2ª feira (29.jul): “O que eu sei é o que eu falei
pra vocês. Não tem nada escrito, que foi isso ou foi aquilo… Meu
sentimento era esse. Agora, você pode ver, a OAB não quer que se
chegue aos mandantes da tentativa de homicídio minha”, completou.
(se referindo ao Adélio Bispo, autor da facada)
© André Dusek/Estadão Para o jurista Miguel Reale Júnior, Bolsonaro “tem de prestar contas” das suas afirmações |
A
versão dada nesta segunda-feira, 29, pelo presidente Jair Bolsonaro
para o desaparecimento do militante de esquerda Fernando Augusto
Santa Cruz de Oliveira, morto em 1974 durante o regime militar,
provocou reação de juristas e entidades ligadas à anistia e
direitos humanos. Em entrevista pela manhã, Bolsonaro
disse que poderia “contar a verdade” sobre o caso.
À tarde, em
‘live’ numa rede social, acrescentou que Oliveira – pai do
atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa
Cruz – teria sido morto pelos próprios colegas do grupo Ação
Popular (AP).
Um
dos autores do pedido de impeachment da presidente cassada Dilma
Rousseff, o jurista Miguel
Reale Jr.
afirmou que Bolsonaro “tem de prestar contas” das suas afirmações
à Comissão
de Mortos e Desaparecidos Políticos, órgão vinculado ao atual
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, Reale
Jr. foi o primeiro presidente da comissão, cargo que ocupou entre
1995 e 2001.
“A
primeira obrigação que o presidente da República tem com o órgão
é fornecer os elementos que ele conhece sobre o desaparecimento do
pai do presidente da Ordem. Ele deve fazer isso para a
responsabilização do Estado, e não para se vangloriar ou
antagonizar com um inimigo político”, disse ele.
Ainda
segundo Reale, o presidente está “dando continuidade” ao
confronto que se estabeleceu na época da ditadura. “Para ele, não
houve a Constituição de 1988 e a anistia. Bolsonaro continua em
guerra. O caso dele não é de impeachment, mas de interdição. É
uma pessoa que a cada dia prejudica a si próprio. Ele tem que ser
protegido. A característica do louco é essa: prejudicar a si
mesmo.”
Ex-secretário
de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e autor da Lei dos
Mortos e Desaparecidos (que reconhece os desaparecidos como mortos e
a responsabilidade do Estado nessas mortes), José Gregori também
avaliou que Bolsonaro deveria dar explicações à comissão.
“Bolsonaro
se insurgiu contra a lei que foi aceita pelas Forças Armadas. Ele
está indo contra uma lei que é uma decisão soberana da nação
brasileira”, disse o ex-secretário. Para Gregori, enquanto o
presidente falava “amenidades sem sentido”, isso era visto como
folclórico. “Enquanto eram amenidades, o Brasil estava rindo, mas
agora é sério. É preciso que se tomem medidas judiciais”,
afirmou ele, lembrando que Oliveira estava entre os primeiros 44
nomes reconhecidos de imediato como mortos durante o regime militar.
Doria.
Aliado de Bolsonaro nas eleições do ano passado,o
governador João Doria (PSDB), cujo pai foi exilado político na
época da ditadura, também criticou a fala do presidente. “É
inaceitável que um presidente da República se manifeste da forma
com que se manifestou. Foi uma declaração infeliz”, afirmou
Doria, em evento no Palácio dos Bandeirantes. “Não posso
silenciar diante desse fato. Eu sou filho de um deputado federal
cassado pelo golpe de 1964 e vivi o exílio com meu pai, que perdeu
quase tudo.”
Em
nota, a Anistia Internacional fala em “declarações duras” de
Bolsonaro e pede que o País “assuma sua responsabilidade”. “É
terrível que o filho de um desaparecido pelo regime militar tenha de
ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do
respeito e da justiça no País, declarações tão duras”,
escreveu a diretora executiva da entidade no Brasil, Jurema Werneck.
“O
Brasil deve assumir sua responsabilidade, e adotar todas as medidas
necessárias para que casos como esses sejam levados à Justiça. O
direito à memória, justiça, verdade e reparação das vítimas,
sobreviventes e suas famílias deve ser defendido e promovido pelo
Estado Brasileiro e seus representantes.”
Também
em nota, o Colégio Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege)
diz que “o respeito entre as instituições e às pessoas é a base
da democracia e o que legitima a própria existência da República”.
/ COLABOROU
ROBERTA JANSEN
Fonte: msn
Fonte: msn
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