Professor e pesquisador do laboratório de Química da USP São Carlos, Gilberto Orivaldo Chierice |
Ele
morreu sem ver a pílula do câncer aprovada pela Anvisa e distribuída pelo SUS à pessoas
com essa doença.
Por
José Maria Tomazela – Estadão
“O pesquisador
Gilberto Orivaldo Chierice, conhecido por ter desenvolvido a
fosfoetanolamina sintética, droga buscada por seus efeitos
contra o câncer, morreu aos 75 anos, nesta sexta-feira, 19, em um
hospital de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Chierice, que era professor aposentado do Instituto de Química da
Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos. Ele estava
internado no Hospital Instituto de Moléstias Cardiovasculares. A
causa da morte não foi divulgada. O sepultamento será na manhã
deste sábado, no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Rio Preto.
Chierice fabricou e
distribuiu durante 20 anos a fosfoetanolamina, conhecida como “pílula
do câncer”, em seu laboratório no Instituto de Química de São
Carlos. Sem testes clínicos que comprovassem sua eficácia, a droga,
sintetizada a partir da monoetanolamina e ácido fosfórico, ganhou
fama como eficaz contra vários tipos de câncer. Ele chegou a
distribuir 50 mil cápsulas por mês, até que, em 2016, notificada
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a USP
suspendeu a produção e distribuição das cápsulas.
A medida desencadeou
uma corrida de pacientes e familiares à Justiça, obtendo liminares
para que o fornecimento da fosfoetanolamina fosse continuado. Em
abril daquele ano, a então presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a
sancionar uma lei para que a medicação fosse fornecida para
pacientes com tumores malignos. Em maio do mesmo ano, por 6 votos a
4, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a lei e as decisões
judiciais que obrigavam o governo a fornecer a substância.
Na época, o governo
paulista havia autorizado uma pesquisa clínica para para testar a
eficácia da ‘pílula do câncer’. Meses depois, o Instituto do
Câncer suspendeu os trabalhos porque a substância não apresentou
resultados significativos. A suspensão dos testes foi bastante
criticada por grupos criados em redes sociais que defendiam a
eficácia da fosfoetanolamina.
A Fosfoetanolamina - A Pilula do Câncer |
"É que a substância usada nos testes não foi dada aos pacientes da maneira correta, foi administrada aos pacientes até três cápsulas de uma só vez. E a Fosfoetanolamina para pacientes com câncer deve ser ministrada uma cápsula por vez, três vezes ao dia", declarava o professor Chierice. Desde então, o laboratório da USP não voltou a
produzir a ‘pílula do câncer’.
A morte do pesquisador,
que deixou esposa, filhos e netos, foi lamentada pelo grupo
Fosfoetanolamina, em sua fanpage no Facebook. “Lamentamos a perda
deste grande homem que durante mais de 25 anos levou esperança e
cura a centenas de pacientes oncológicos. Seremos sempre gratos pelo
trabalho excepcional, e pela pessoa maravilhosa que foi. A
simplicidade e enorme coração jamais serão esquecidos por aqueles
que conhecem a verdade. O Brasil perde um grande cientista”, diz o
texto.”
Fonte:
Estadão
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