Por © MARCOS D'PAULA/ESTADÃO
"Ministério da Saúde suspende contratos para fabricar 19 remédios de distribuição gratuita"
“Associações
que representam laboratórios públicos estimam perda anual de R$ 1
bilhão com fim dos contratos”
“O Ministério
da Saúde suspendeu,
nas últimas 3 semanas, contratos com 7 laboratórios públicos
nacionais para a produção de 19 medicamentos distribuídos
gratuitamente pelo Sistema
Único de Saúde (SUS).
Documentos obtidos pelo Estado apontam
suspensão de projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo
(PDPs) destinados à fabricação de remédios para pacientes que
sofrem de câncer e diabete e transplantados. Os laboratórios que
fabricam por PDPs fornecem a preços 30% menores do que os de
mercado. E já estudam ações na Justiça.
“Associações que representam os laboratórios públicos falam em
perda anual de ao menos R$ 1 bilhão para o setor e risco de
desabastecimento – mais de 30 milhões de pacientes dependem dos 19
remédios. A lista inclui alguns dos principais laboratórios:
Biomanguinhos, Butantã,
Bahiafarma, Tecpar, Farmanguinhos e
Furp.
Além disso, devem ser encerrados contratos com oito laboratórios
internacionais detentores de tecnologia, além de laboratórios
particulares nacionais. Isso porque cada laboratório público, para
desenvolver um produto, conta com dois ou três parceiros. Depois,
esses laboratórios públicos têm o compromisso de transferir a
tecnologia de produção do medicamento ao governo brasileiro. Essa
lista inclui referências da indústria como a GlaxoSmithKline Brasil
Ltda. (GSK) e a Libbs, além de Oxygen, Nortec, Biomm, Cristália,
ITF, Axis e Microbiológica Química e Farmacêutica Ltda.
Transitório - Só que quem está doente não pode esperar
Procurado, o Ministério da Saúde informou que as PDPs continuam
vigentes. Segundo a pasta, foi encaminhado aos laboratórios um
ofício que solicita “manifestação formal sobre a situação de
cada parceria”. O órgão federal ainda informou que “o chamado
‘ato de suspensão” é por um período transitório”, enquanto
ocorre “coleta de informações”. Veja quais são os medicamentos
O Estado, porém, teve acesso a um dos ofícios
em que o ministério é categórico ao informar o encerramento da
parceria. O documento, do dia 26 de junho, é assinado por Denizar
Vianna Araujo, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e
Insumos Estratégicos em Saúde. a Bahiafarma é informada que, com
base em um parecer da Advogacia-Geral da União e da
Controladoria-Geral da União, “comunicamos a suspensão da
referida PDP do produto Insulina Humana Recombinante Regular e NPH,
celebrada com a Fundação Baiana de Pesquisa Científica e
Desenvolvimento Tecnológico, Fornecimento e Distribuição de
Medicamentos e solicitamos manifestação formal da instituição
pública quanto à referida decisão, no prazo improrrogável de dez
dias úteis”.
O presidente da Bahiafarma e da Associação dos Laboratórios
Oficiais do Brasil (Alfob), Ronaldo Dias, disse que os laboratórios
já estão tratando as parcerias como suspensas. “Os ofícios dizem
que temos direito de resposta, mas que a parceria acabou. Nunca os
laboratórios foram pegos de surpresa dessa forma unilateral. Não há
precedentes”, afirmou.
Consequências
O entendimento da associação de laboratórios é que a entrega de
remédios já programada continua garantida. Isso significa que não
deve haver interrupção imediata no fornecimento.
Segundo ele, a maior parte pretende fazer um questionamento jurídico.
“A primeira medida que a gente pretende tomar é no âmbito
judicial. Nossa linha deve ser alegar a arbitrariedade da forma que
isso se deu.”
Já o representante de um laboratório de São Paulo, que falou com o
Estado sob a condição de não ter o nome divulgado, disse que a
suspensão das parcerias vai criar um problema de saúde e afetar uma
cadeia econômica “imensa”, expondo o Brasil à insegurança
jurídica.
Ele cita como exemplo uma planta industrial no valor de R$ 500
milhões, construída em uma parceria de um laboratório privado com
o Instituto Butantã e financiada pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Essa planta toda fica obsoleta. Toda cadeia econômica está
severamente afetada”, disse.
Associação fala em ‘desmonte de milhões de reais’
O presidente da Bahiafarma e da Associação dos Laboratórios
Oficiais do Brasil (Alfob), Ronaldo Dias, vê retrocesso para a
indústria nacional de medicamentos e um risco para a saúde de
milhões de pacientes. O laboratório é um dos que tiveram seus
contratos suspensos. “É um verdadeiro desmonte de milhões de
reais de investimentos que foram feitos pelos laboratórios ao longo
dos anos, além de uma insegurança jurídica nos Estados e entes
federativos. Os laboratórios não têm mais como investir a partir
de agora. A insegurança que isso traz é o maior golpe da história
dos laboratórios públicos.
O
representante do setor destaca que as Parcerias para o
Desenvolvimento Produtivo (PDPs) também funcionam como um regulador
de preço no mercado. Ele explica que a Bahiafarma, por exemplo,
vende insulina a um preço três vezes menor que laboratórios
estrangeiros. Dias ressalta que um processo de compra de medicamento
no Ministério da Saúde costuma demorar até 11 meses para ser
concluído. Por isso, haveria até risco de desabastecimento.”
Fonte:
Estadão
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