CAMPANHA COLETIVA DE MULHERES DO MTST FAZ PANFLETAÇO NA RUA (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Por Giovanna Galvini - Carta Capital
"Modelo tenta driblar a crise de representatividade do País, diz Jussara Basso, cabeça de chapa de 'Juntas - Mulheres Sem Teto'"
As candidaturas coletivas vieram para ficar mesmo sem previsão legal de divisão de recursos e presença conjunta nos plenários. Inauguradas nas eleições municipais de 2016 com a Gabinetona, coletivo do PSOL eleito em Belo Horizonte formado por Áurea Carolina e Cida Falabella, o modelo “vote em uma, leve todas” expandiu-se ao Legislativo estadual em 2018 com as experiências da Bancada Ativista (SP) e das Juntas (PE), ambas também do PSOL.
O uso de “todas” e a recorrência de partidos progressistas nesse tipo de candidatura são duas características marcantes do projeto brasileiro. Quem faz a análise é Beatriz Pedreira, cofundadora do Instituto Update, que mapeia inovações políticas na América Latina. Para a pesquisadora, as candidaturas coletivas “hackeiam” um sistema difícil de ser alterado pelas vias legais em nome da representação popular.
“Tem uma tendência a ser liderado por mulheres, e o Brasil é vanguarda nesta estratégia política. Já serviu até de inspiração na Colômbia, com a campanha do ‘Estamos Listas’. As candidaturas representam uma oxigenação e inovação na prática política, um ‘hackeamento’ do sistema. É usar a lei, um mecanismo tão difícil, para criar novas formas institucionais, para se eleger e inovar a partir dele”, afirma.
A pesquisadora analisa que entender um cargo político nem sempre é uma tarefa simples para os eleitores – mesmo quando falamos em candidaturas individuais. Para os coletivos, essa dificuldade é ainda maior. No entanto, a origem de movimentos sociais da maioria dos grupos facilita o convencimento dos cidadãos de que um projeto popular é possível.
“O eleitor entender o que faz um vereador já é um grande desafio, mas já que isso está ligado a um setor político mais progressista, que dialoga mais com as inovações, a gente pode dizer que é uma estratégia de nicho”, analisa.
“As pessoas entendem mais a coletividade do que a gente imagina. O cidadão brasileiro que precisa de uma rede para sobreviver entende o que é uma colaboração. Talvez seja mais difícil para uma elite econômica entender o funcionamento colaborativo do que para as pessoas que vivem nas periferias, ou as que têm uma outra relação sem privilégios, em que essa rede de contato funciona de uma forma mais presente”.
Até o momento, não há uma contabilidade oficial de quantos projetos coletivos concorrem nas eleições 2020. Em nota, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que não dispõe dos dados “porque, sob o aspecto jurídico-legal, não existem candidaturas coletivas.”
Busca por representatividade é central
A origem no movimento sem-teto e a busca por representatividade desta pauta levaram Jussara Basso, Valdirene Cardoso e Débora Pereira a lançarem uma candidatura coletiva do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) na capital paulista nomeada de “Juntas – Mulheres Sem Teto”.
Apontadas como as candidatas de Guilherme Boulos, que concorre à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, as três cravaram a vontade de concorrer em 2019 após o 1º encontro estadual das mulheres do movimento.
“A crise de representatividade do País diz respeito a uma crise de participação da população mais pobre. Por isso, pensamos em uma chapa coletiva para trazer esta representação caso eleitas”, afirma Jussara Basso, que é a cabeça de chapa e a representante legal nas urnas.
DÉBORA, JUSSARA E VALDIRENE (TUCA), DA CHAPA COLETIVA DO MTST PARA A VEREANÇA DE SÃO PAULO. (FOTO: RAVI SANTANA/CARTACAPITAL) |
Questionada sobre as dúvidas mais comuns em relação à candidatura, Jussara elenca a divisão de recursos e o funcionamento do gabinete como exemplos. Para tal, elas também se espelham nas experiências consolidadas no País: divisão igualitária de salários e colegiado sobre votos em projetos de lei e destinação de emendas parlamentares.
“Mesmo sendo diferente e não sendo [um projeto] pioneiro, percebemos que as pessoas se identificam com o formato também por questionarem o personalismo político”, afirma Jussara Basso.
Até quem já vivenciou a experiência de um mandato padrão tem se interessado pelo formato. É o caso do professor universitário Nabil Bonduki, eleito vereador pelo PT em 2001 e 2013, e que volta a concorrer à Câmara dos Vereadores de São Paulo no Mandato Coletivo + Direito à Cidade.
“Eu não estava muito entusiasmado em ter uma campanha individual e, dentro do grupo que vinha atuando comigo, começou a se discutir quem seriam pessoas representativas para uma candidatura. É importante ter uma inovação deste tipo para garantir maior diversidade etária, de gênero, racial e de pessoas de diferentes regiões da cidade. Isso permite que conversemos com mais gente”, relata.
COLETIVO + DIREITO À CIDADE (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
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