“O meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado.”.
Albert Einstein
Em 9 de novembro de 1989, o mundo assistiu ao vivo a queda de um muro. Não era um muro qualquer. Quarenta anos após a sua construção, o Muro de Berlim caiu. Erguido como símbolo maior de uma era que entraria para a história como a “Guerra Fria”, a parede de pedra que separava fisicamente os alemães e ideologicamente o mundo perdia sua razão de existir.
O muro não resistiu à onda de mudanças que culminou com o fim da União Soviética e a derrocada dos modelos comunistas que sustentavam a existência do muro. Ironicamente, a queda do muro ocorreu devido a um lapso cometido pelo porta-voz do governo da então Alemanha Oriental, Günter Schabowski.
A crescente pressão por mudanças no regime fez com que o governo alemão oriental planejasse flexibilizações na lei de viagens do país, de maneira a facilitar o deslocamento entre cidadãos das duas Alemanhas. Ao ser perguntado por um repórter quando a lei entraria em vigor, Schabowski respondeu que, pelo seu conhecimento, ela entraria em vigor “imediatamente”.
Como resultado, milhares de alemães em ambos os lados correram para o muro, em um movimento que os guardas não tinham como conter sem provocar um massacre sem precedentes. Quanto mais a notícia se espalhava, mais alemães se aglomeravam em frente ao muro, em ambos os lados, finalmente se unindo de uma forma emocionante. Maravilhado, o mundo assistiu ao vivo, pela TV, a queda de um regime político - e o fim de uma era.
Talvez inebriado pela contagiante alegria dos alemães, o filósofo norte-americano Francis Fukuyama decretou que a supremacia das economias liberais e das democracias representava, a seu ver, “o fim da História”. No entendimento de Fukuyama, o fim da Guerra Fria significava também o fim das batalhas ideológicas e de mudanças significativas, o que justificava a declaração de óbito da História.
Passados os anos, vemos que a História ainda tem muita história para contar. Os impactos sócio-ambientais ocasionados pelos modelos produtivos e econômicos dominantes têm sido colocados em crescente questionamento, enquanto as democracias encontram-se sob ataque em praticamente todo o mundo. O dia 6 de janeiro de 2021, por exemplo, entrará para a sempre viva História como o dia em que o Capitólio do Congresso norte-americano foi invadido por centenas de pessoas que desejavam alterar o resultado de eleições realizadas meses antes, algo inimaginável que acontecesse nos Estados Unidos. Líderes de países como Hungria, Turquia, Polônia e Brasil atacam e corroem as instituições e regras que mantém o sistema democrático. A Alemanha e a França assistem ao crescimento da extrema-direita, enquanto o Chile assiste a um candidato de mesma diretriz política chegar ao segundo turno das eleições presidenciais, com chances de vitória.
O que leva as pessoas a apoiarem candidatos que pregam violência, sectarismo e o erguimento de novos muros?
Voltemos então ao final da Guerra Fria. O fim da União Soviética decretou também o fim de um mundo ideologicamente binário, dividido em áreas de influência sob os Estados Unidos e da falecida União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Nada mais seria como antes. Com o intuito de entender como seria este novo mundo, no início dos anos 1990 a Academia de Guerra dos Estados Unidos conceituou que o mundo originado das cinzas da Guerra Fria seria um “mundo V.U.C.A.” – sigla iniciada pelas iniciais das palavras “Volatilidade (‘Volatility’), “Incerteza” (Uncertainty), “Complexidade” (Complexity) e “Ambiguidade” (Ambiguity). Era um mundo onde a internet começava a entrar no cotidiano das pessoas, o fluxo de comércio ganhava novos contornos, as pessoas viajavam e compartilhavam ideias com mais liberdade, novos pólos de poder surgiam no mundo (como a China e a Índia) e as transações monetárias tornavam-se globais.
Com o mundo V.U.C.A., milhões de pessoas passaram a ter voz ativa ou a participar do comércio ou das decisões regionais ou mundiais que afetavam a vida de outros milhões. O fluxo de pessoas trouxe novas possibilidades artísticas e culturais, e rapidamente, legais. Novos empregos surgiam, enquanto outros desapareciam, ou se mantinham apenas por questões legais ou culturais. A conectividade aumentou exponencialmente, bem como os canais utilizados para a troca de informações. A partir de 2012, o conhecimento gerado pela Humanidade passou a dobrar a cada ano, trazendo consigo inovações tecnológicas previstas apenas nas mais delirantes histórias de ficção científica ou fantasia.
Tudo isto trouxe muita, muita mudança. É possível afirmar que, em 30 anos, a Humanidade assistiu a mudanças em uma escala nunca registrada em sua história.
E a mudança traz consigo ansiedade e medo. Afinal, praticamente todos os alicerces nos quais milhões de pessoas definiram o mundo e suas vidas foram sacudidos violentamente. A insegurança que isto traz é enorme. E é justamente este medo que é espertamente manipulado por políticos com viés autoritário, ao prometerem “ordem”, “disciplina”, “segurança” e “manutenção dos valores da sociedade”. Eles prometem aquilo que a sociedade não mais possui quando entramos na época do mundo V.U.C.A.: a certeza, a previsibilidade, o controle e, com isto, a percepção de segurança. Esta promessa, ainda que vazia, encontra eco no coração de milhões de pessoas que estão assustadas com a velocidade e a profundidade das mudanças à sua volta, e que desejam recuperar a sensação de segurança mesmo recorrendo à violência.
A combinação do medo da mudança, somada com a tendência do ser humano de entregar a responsabilidade das ações que lhe afetam nas mãos de outros, cria o coquetel que envenena as democracias ao redor do mundo.
Não existem antídotos fáceis para este veneno. Vão desde leis que impeçam adequadamente que as conquistas típicas de uma democracia (como a liberdade de expressão) sejam utilizadas para envenenar a própria democracia até canais mais eficazes para que os diversos segmentos da sociedade possam se expressar sem recorrer a extremismos.
Mas, principalmente, é necessário que cada integrante da sociedade entenda e aplique em suas ações uma profunda consideração pelo outro - e por si mesmo. Quando alguém deseja subjugar outro pela força, na verdade está também validando que seja também subjugado pela força. Precisamos aprender, de uma vez por todas, que é impossível se criar monstros sem que estes se voltem contra os próprios criadores.
O desafio da democracia está em fazer com que os integrantes de uma sociedade que se considera democrática alcancem a característica que iguala a todos não por força de lei, mas pela força do reconhecimento do valor único de cada um: o Respeito.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
E além disso, nunca tivemos uma verdadeira democracia.
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