João, 1:1
Em 2016 foi lançado o filme “A Chegada”, uma pérola da ficção científica. A história parte da surrada premissa da aterrissagem de naves espaciais alienígenas em vários pontos de nosso planeta, gerando apreensão na humanidade. Mas ao invés de batalhas turbinadas por efeitos especiais e atos heróicos de humanos contra um inimigo evidentemente muito mais poderoso, assistimos à jornada de uma especialista em linguagem em se comunicar com os extraterrestres.
E se comunicação já é um desafio entre seres humanos que compartilham a mesma linguagem, imaginem o desafio de se estabelecer comunicação com seres que não apenas são totalmente diferentes de nós, mas que utilizam uma forma de linguagem nunca antes imaginada. E, no decorrer do filme, vemos como o aprendizado da linguagem alienígena modifica a forma de como a protagonista da história percebe tempo e espaço, levando a um final belo e emocionante.
O aprendizado de uma linguagem, ou uma língua, pode nos levar a perceber o mundo de forma diferente? Esta é a premissa do filme, baseado na teoria desenvolvida por Edward Sapir e Benjamin Whorf. Pela teoria desenvolvida por ambos, pessoas imersas em uma determinada cultura tem suas estruturas mentais e pensamento moldadas pelas línguas que falam, visto que estas línguas exprimem o que estas percebem do ambiente em que estão inseridos.
No início dos anos 1970, o norte-americano Daniel Everett decidiu evangelizar tribos na Amazônia brasileira. Com este intuito, decidiu viver com a tribo Pirahã, aprender sua língua e efetuar a tradução da Bíblia para a língua dos indígenas. E começou a descobrir aspectos peculiares na língua deste povo. Os Pirahãs não conhecem números da forma como conhecemos. Eles percebem as quantidades como “muito” ou “pouco”, conforme o contexto vivenciado no momento.
Aumentando o fascínio de Everett, os Pirahãs possuem uma noção de tempo completamente distinta da nossa – sua língua não possui contrações verbais para passado ou futuro. A cultura Pirahã determina como percebem o Universo à sua volta. Crianças Pirahãs que foram criadas desde cedo em contato com outra cultura desenvolveram a capacidade de contar conforme nós fazemos em nosso dia a dia. O que demonstra o peso da cultura, da linguagem e da língua na capacidade de gerar a nossa percepção do mundo.
E se a linguagem e a língua são uma estrada que nos abrem o Universo, as palavras são os tijolos que compõem esta estrada. Desta forma, aprender uma nova língua significaria apreender novas percepções do universo, detectadas e codificadas por aquelas culturas. Aprender uma palavra significa expandir um pouco mais o Universo, o seu Universo – e sua capacidade de pensar, refletir, expressar-se.
A palavra alemã “Schadenfreud”, por exemplo. Ela exprime e identifica o sentimento gerado pela satisfação do prejuízo ou dano sofrido pelo próximo. Então, se ao assistir alguém bem vestido (principalmente um desafeto ou rival) perder o equilíbrio ao andar e cair em uma poça de lama, o sentimento que lhe toma é “schadenfreud”. Não existe uma palavra na língua portuguesa que codificava este sentimento. Neste momento, que você não apenas sabe que o sentimento existe mas que também o nomeou, você é capaz de ter consciência dele com mais precisão, e com isto aumentar seu próprio poder. Você está maior. Sua capacidade de pensar e exprimir o que pensa também cresceu. E sua capacidade de conectar-se com o outro também cresceu. A jaula para prender sua mente terá que aumentar, a partir deste momento.
Um dos livros mais marcantes da literatura é “1984”, de George Orwell. Neste clássico da ficção (?), Orwell imaginou um regime totalitário, no qual o estado possuía absoluto controle sobre as pessoas. Todos os aspectos da vida de um indivíduo eram monitorados e controlados, inclusive o pensamento. E neste aspecto, o autor desenvolveu uma perspectiva simples e brilhante. Para controlar e restringir o pensamento, o regime não precisava de chips ou redes globais de comunicação praticamente onipresentes e oniscientes como vivenciamos atualmente.
Os arquitetos deste estado totalitário restringiram e controlaram o pensamento por meio da Linguagem. Por intermédio da “Novilíngua”, eles conseguiram limitar bastante o pensamento das pessoas simplesmente tornando seu vocabulário tão simples e tosco que homens e mulheres se tornaram incapazes de formular raciocínios mais complexos. Logo, tornavam-se menos ameaçadores à ordem vigente.
Nunca perca a oportunidade de conhecer palavras novas. Nunca perca a oportunidade de romper o muro do desconhecimento, seja viajando, seja conversando com pessoas que lhe mostrarão novas percepções. Achou uma palavra difícil? Ótimo! Procure seu significado, entenda seu contexto, sugue o que ela exprime.
As palavras são poderosas. Elas podem libertar e podem prender. Por meio delas, o Conhecimento é transmitido pelos séculos e multiplicado, literalmente criando universos, abrindo mundos de possibilidades. As palavras podem ser veneno e fel, quando elaboradas no calor do ódio e da raiva, ou bálsamos, quando nascidas no amor e na compaixão.
É essencial que tenhamos consciência de seu poder e de sua capacidade de criar ou destruir. Quantas tragédias não seriam evitadas, se as palavras tivessem sido usadas com sabedoria! Quantas mentes e corações teriam brilhado, caso as palavras tivessem sido utilizadas para construir pontes!
As palavras são o princípio, o meio e o fim de tudo. Bem utilizadas, elas nos permitem alcançar o máximo da característica que nos livra do fardo da ignorância: a Compreensão.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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