terça-feira, 22 de novembro de 2022

"Dislexia: Entenda a condição de difícil diagnóstico"

O diagnóstico da dislexia está longe de ser uma ciência exata.
[Imagem: Gerd Altmann/Pixabay]

 Com informações do Jornal da USP 

O que é dislexia

"De difícil compreensão e diagnóstico, há estimativas que até 17% da população mundial tenha dislexia.

É um distúrbio de aprendizagem, especificamente de leitura, mas que tem consequências na escrita: Pessoas disléxicas têm dificuldade em decodificar palavras e em relacionar o fonema com o grafema, ou seja, ligar o som à letra.

"É uma dificuldade bastante específica no reconhecimento dos grafemas, que seriam as letras, e na conversão destes em sons no cérebro. A dislexia seria a falha e a dificuldade no reconhecimento de traços que são socialmente construídos para representar sons, então é uma dificuldade bastante específica que envolve leitura e escrita," explica a professora Telma Pantano, fonoaudióloga da USP.

Os sintomas mais comuns são a dificuldade na escrita, na leitura, confundir esquerda com direita, trocar letras por outras de forma parecida, como d e b ou t e f, mesmo que o som não seja igual. Os disléxicos também têm dificuldade em seguir ordens, compreender frases muito longas, na compreensão de textos e de conceitos abstratos e podem apresentar um vocabulário pobre, confusão entre cores e formas, erros de concordância verbal e escrita espelho, invertendo a palavra.

Mas existem diferentes graus, de forma que algumas pessoas têm mais facilidade em lidar e conviver com a dislexia. 

E, como o lado esquerdo do cérebro está envolvido nas funções de leitura e escrita, além sediar a memória de curto prazo, a disfunção torna difícil decorar palavras e letras. Por isso, para os pacientes com essa condição, é como se estivessem em um constante processo de aprender a ler.



Por outro lado, a dislexia está entre as principais condições apontadas por alguns especialistas como "doenças inventadas", um fenômeno de sobrediagnóstico conhecido como medicalização.
[Imagem: svklimkin/Pixabay]

Muito confundida com o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), a dislexia é considerada pelos cientistas como sendo uma doença genética relacionada a um problema de ordem neurobiológica, que afeta o lado esquerdo do cérebro.

Dificuldade de aprender

O processo de alfabetização da criança disléxica acaba se tornando mais lento.

O distúrbio, porém, não pode ser confundido com baixos níveis de inteligência, criatividade ou falta de vontade de aprender. Quanto mais cedo a criança for diagnosticada e tratada, melhor será para seu desenvolvimento. Muitas pessoas disléxicas acabam desmotivadas a estudar porque não há um apoio ou estímulo adequado a elas, o que é essencial.

Por se tratar de uma dificuldade primária de aprendizagem, a condição está relacionada à reprovação escolar. Por isso, a escola tem papel fundamental na identificação de alunos disléxicos. O distúrbio não se manifesta em nenhum outro lugar de maneira tão enfática ou clara, principalmente pelos estímulos cognitivos e de leitura.

"Muitas vezes o professor desconfia e tem toda a capacidade de perceber, de observar as dificuldades, mas a avaliação e diagnóstico tem que ser feita num contexto individual e clínico," destaca Telma. Não existe diferenciação na hora da matrícula para alunos com dislexia e, até o ano passado, não existia diferença de tratamento no que tange ao aprendizado nas escolas.

Não incluídos na lei de pessoas com deficiência, os disléxicos e pessoas com TDAH agora têm amparo legal por meio da lei n°14.254, de 30 de novembro de 2021. Por meio desta, fica assegurado acompanhamento integral para os alunos com o diagnóstico desses distúrbios de aprendizagem. 

"É bastante importante que eles se sintam mais acolhidos e consigam aprender todo o conteúdo dado em sala de aula. Hoje a gente tem leis que deixam isso muito claro da necessidade de suporte e de intervenção comportamental que a escola pode e deve fazer mesmo sem um diagnóstico preciso," lembra a psicóloga. 

Como lidar com a dislexia?

Para deixar mais fácil o processo de aprendizagem, a escola pode adaptar algumas práticas simples de inclusão desses alunos: colocá-los à frente da sala, falar olhando para eles, dar ordens simples e estimular a consciência fonoaudiológica, recomenda Telma.

É importante também que a forma de avaliação leve em conta essa dificuldade, para que as taxas de reprovação não aumentem ainda mais: Não descontar erros ortográficos ou de pronúncia, disponibilizar mais tempo para a leitura e conclusão das atividades e propor diferentes atividades, não só as que incluam leitura e escrita.

"A gente precisa reestruturar a escola. Colocar a aprendizagem escolar, como é uma aquisição de conceitos que envolvem habilidades cognitivas socioemocionais, de uma forma mais ampla. Temos que entender que a escola precisa ainda reformular um ponto muito importante que é entender a necessidade de não colocar a leitura e a escrita como os pontos centrais dessas aquisições, tanto cognitivas como socioemocionais," disse Telma. 

O professor, portanto, deve estar atento e comunicar os pais e responsáveis caso encontre algum dos sintomas no aluno ou veja que ele tenha alguma dificuldade. Contudo, mesmo tendo um papel muito importante no processo de descobrir a dislexia, o professor não deve dar o diagnóstico, que deve ser feito por uma equipe multidisciplinar que conte com psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e um neurologista.

A confirmação do diagnóstico só aparece na ressonância funcional, que filma o cérebro em ação. O tratamento pode ser feito a partir de programas fonoaudiólogos associados à psicoeducação, aulas de reforço individual e psicoterapia."

Fonte: Diário da Saúde 

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