Em 3 anos, Samarco cumpriu 1 dos 42 programas de reparação após crime ambiental
Região atingida pelo desastre ambiental vai do estado de Minas Gerais até o Espírito Santo
Por
Juca Guimarães
Brasil
de Fato | São Paulo (SP)
Dos 42 programas de reparação definidos, apenas um foi concluído. Nem o cadastro das pessoas atingidas foi feito / Ibama/Ascom |
Passados
mais de três anos do crime
ambiental cometido pela Mineradora Samarco,
apenas um dos 42 programas de reparação exigidos pelo Comitê
Interfederativo (CIF) foi considerado concluído. O desastre
ambiental ocorreu em 5 de novembro de 2015.
Leonardo
Castro Maia, integrante do Ministério Público de Minas Gerais e
membro do CIF, ressalta o atraso dos programas, a exemplo do cadastro
dos atingidos – que, segundo ele, “é essencial para a
execução de diversos outros”. Conforme a determinação do
comitê, o cadastramento
de todos os atingidos deveria ter sido concluído em um ano.
O comitê
interfederativo (CIF) é responsável por fiscalizar e acompanhar as
medidas de reparação dos
danos causados ao meio ambiente e às comunidades com o vazamento de
32 milhões m³ de rejeitos e metais pesados da barragem do Fundão,
conhecida como “lama da morte”.
Passos
lentos
Desde
o primeiro encontro dos representantes do comitê até hoje, foram
realizadas 33 reuniões. Porém, não houve avanços
significativos. Chama atenção o fato de nenhum
representante dos moradores atingidos ter cadeira ou voto no comitê.
A
primeira reunião da CIF ocorreu em 11 de abril de 2016, cinco
meses após o rompimento da barragem,
e foi presidida pelo então ministro da Justiça, José Eduardo
Cardoso.
A região
atingida pelo desastre ambiental compreende
uma área com mais de 900 km de extensão e 84 mil km² ao longo da
bacia do Rio Doce, entre os estados de Minas Gerais e Espírito
Santo.
Orçamento
fora dos parâmetros
A
implementação das medidas
de reparação ficou a cargo da Fundação Renova, um braço do grupo
Samarco.
A instituição foi criada após a assinatura de uma Termo de
Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) feito entre a mineradora,
o IBAMA, os governos de Minas Gerais e Espírito Santo, além de
diversos órgãos governamentais e de defesa do meio ambiente.
O orçamento
das medidas de reparação para 2019 apresentado pela Fundação
Renova, em dezembro, estava fora dos parâmetros mínimos
determinados pelo CIF, sem os detalhamentos das despesas planejadas.
Foi determinado o prazo de 30 dias, que termina no dia 17 de
janeiro, para que um novo orçamento seja enviado.
Com
delongas
Os programas
foram elaborados de acordo com o trabalho de 11 câmaras técnicas,
segmentadas por área, que reportam o andamento das ações para o
CIF, que se reuniu mensalmente, por dois dias.
“A
demanda de volume de discussões que chega para o CIF é muito grande
para pouco tempo de avaliação. Pelo fluxo das coisas, acaba
demorando muito uma decisão do CIF. Por exemplo, o reconhecimento
dos atingidos do litoral Norte do Espírito Santo, foi em janeiro de
2017. Para o CIF avaliar a não implantação da medida pela Renova
teve que esperar até julho. Para sancionar uma multa, só em agosto.
E ainda espera para cobrar a multa. Então, gera um lapso das
demandas, que passam pelas câmaras e só depois vai para o CIF. Isso
é prejudicial para o processo de reconhecimento dos atingidos”,
disse Tchenna Maso, do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).
Falta
equipe específica
Outro
problema estrutural do comitê é a falta de uma equipe específica
para acompanhar os processos, entre uma reunião e outra. Além
disso, não
foram criadas sanções em caso de não cumprimento das determinações
do CIF.
“O
CIF é marcado por uma rotatividade grande de representantes por
parte do Estado, isso acaba sendo prejudicial, porque até ele pegar
o que é o CIF, o funcionamento do comitê, em que estado a
discussão. O que a gente do MAB nota é que boa parte do que eles [a
Renova] propõe e apresenta dentro do CIF não é cumprida. Eles não
cumprem as recomendações, os prazos de multa. A reconstrução da
cidade de Bento Rodrigues estava para ser feita há muito tempo. A
empresa apresenta dados de que tem andado, andado, mas na verdade,
nenhuma casa foi construída”, afirmou Tchenna.
Novo
governo
Com
a posse dos novos governadores e do presidente, que já fez várias
alterações no Ibama, por exemplo, a morosidade na atuação do CIF
pode aumentar.
“O
CIF tem um caráter de sanção fraco. Ele termina o pagamento de
multa e o que a empresa tem feito é não pagar a multa e nem fazer a
obrigação dela. A gente tem uma grande preocupação, que esse
momento de transição do CIF, com a troca do governo, vão mudar as
pessoas que são indicadas a compor o comitê. Nessa mudança a gente
vai perder todo o acúmulo de trabalho das câmaras técnicas. Vale
dizer que tem muitos funcionários públicos comprometidos com a
resolução disso e que, provavelmente, vão sair com a mudança dos
governos. A gente vai ter uma dificuldade de encaminhando nos
próximos meses”, disse.
Outro
lado
Quanto
aos prazos dos programas, a Fundação Renova alegou que o cronograma
inicial, definido pelo Termo de Transação de Ajustamento de Conduta
(TTAC), não considerou a complexidade e a extensão do território
atingido.
Em
relação ao atraso nas obras do assentamento de Bento Rodrigues, a
Fundação disse que o projeto, já aprovado pelos moradores, teve
que ser abandonado e refeito no final do ano passado. Isto porque,
cerca de 4% da área nova ficava em um terreno com aclive acima do
máximo permitido pela lei estadual. A expectativa é que as obras
comecem em 2019.
Sobre
o não pagamento de multas impostas pelo CIF, a fundação Renova
informou, em nota, que “entende que há aspectos técnicos e
jurídicos nas decisões que precisam ser reavaliados e aguarda o
detalhamento do cálculo”.”
Edição:
Katarine Flor
Fonte: Brasil de
Fato
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