© Foto: Rodney Costa/AFP/Gett |
Por
BBC News
“O
perigo em Brumadinho
não se limita ao possível rompimento de novas barragens na região.
A lama que arrastou parte da mina da Vale, construções e estradas
traz consigo riscos imediatos e futuros à saúde para quem teve
contato com o barro e também quem vive próximo ao rio Paraopeba.
Médicos
ouvidos pela BBC News Brasil alertam para o risco de infecções,
contaminações e, num futuro próximo, até de câncer e doenças
autoimunes.
"As
doenças infectocontagiosas ou parasitárias podem surgir agora. Como
é barro, é córrego, pode ter leptospirose, aumento da dengue e de
febre amarela", afirma o médico Marcelo Lopes Ribeiro, diretor
assistencial da Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas
Gerais).
Ribeiro
observa ainda que há substâncias químicas e tóxicas no local, o
que aumenta o risco de contaminações e intoxicações.
O
médico Luis Fernando Correia, comentarista da rádio CBN e do canal
de TV GloboNews, afirma que, além das doenças a curto prazo, há o
risco de exposição a elementos químicos que podem ser altamente
prejudiciais à saúde a médio e longo prazo.
"A
qualidade da água dos rios e dos peixes precisam ser monitorados e a
população da região precisa ser acompanhada. Daqui a dez anos
podem surgir casos de câncer e de doenças autoimunes e podemos não
associá-las ao rompimento da barragem", afirma Correia.
Produtos químicos na lama
O
médico cita um estudo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
que identificou 13 elementos químicos, entre eles níquel, magnésio
e cádmio, usados na mineração na região do quadrilátero
ferrífero em Minas.
"São
chamados elementos traço e mesmo em quantidade pequena podem ser
prejudiciais. O problema é que não é possível medir qual a
concentração a qual as pessoas foram expostas", avalia
Correia.
O
geólogo Bráulio Magalhães Fonseca, professor da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais), diz que rejeito de mineração contém,
basicamente, óxido de ferro, amônia, muita sílica, silte e argila.
Barragens muito antigas podem ter elementos altamente tóxicos. "Podem
conter até mercúrio e arsênio", afirma o professor.
Somam-se
a isso outras substâncias armazenadas nos galpões da Vale e até
mesmo as que estavam no caminho por onde a lama passou.
"Os
rejeitos que chegam aos rios da região podem contaminar a fauna e a
flora, eventualmente afetando a cadeia alimentar. Para os humanos os
riscos são, principalmente, o consumo de peixes que tenham tido
contato com os resíduos e rejeitos acumulados no fundo dos rios. Os
resultados poderão ser percebidos somente daqui a décadas",
diz Luis Fernando Correia.
O
médico Marcelo Ribeiro conta que alguns dos seis sobreviventes da
tragédia atendidos no hospital João XXIII chegaram a engolir lama e
apresentaram irritação ocular. O serviço de toxicologia do
hospital pediu à Vale, dona da mina, a lista de substâncias para
tentar medicar os pacientes, mas que até então não tinha sido
enviada. "Falaram
que está em estudo", diz Ribeiro.
A
Vale está fazendo uma análise laboratorial do rejeito para saber se
o material representa risco para a saúde. O laudo deve ficar pronto
em até 15 dias.
Nesta
terça-feira, o coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais,
tenente-coronel Flavio Godinho, chegou a dizer que alguns bombeiros
tiveram intoxicação por causa do contato com a lama em Brumadinho.
Mas
o Corpo de Bombeiros explicou que os militares estão tomando
medicamentos para minimizar os efeitos do contato com material
orgânico.
"Esses
medicamentos podem ocasionar náuseas e diarreia. São efeitos
colaterais", explicou a corporação, por meio da assessoria de
imprensa.”
Fonte:
BBC NEWS
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