ILona Szabô Foto: ©
Tomaz Silva/Agência Brasil |
ILona Szabó: 'Moro disse que lamentava, mas estava sendo pressionado'
“Na sexta-feira passada, ela foi convidada por Sérgio Moro para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, mas acabou exonerada, nesta quinta”
POR
ESTADAO CONTEUDO
"Ilona
Szabó é cientista política e dirige o Instituto Igarapé, think
tank de renome internacional em estudos sobre segurança pública. Na
sexta-feira passada, dia 22, ela foi convidada pelo ministro da
Justiça, Sérgio Moro, para integrar, como suplente, o Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
Em
janeiro, Ilona e Moro participaram de um debate no Fórum Econômico
Mundial, em Davos, e na ocasião identificaram várias convergências
de ideias. Na quarta-feira, dia 27, Ilona foi a Brasília e fez uma
apresentação de sua metodologia a Moro e ao secretário de
Segurança Pública, Guilherme Teóphilo. Nesta quinta-feira, 28, as
redes sociais amanheceram com protestos contra a indicação feita
por Moro - e a cientista política foi exonerada do Conselho antes de
completar uma semana.
Quem
a convidou para o Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária?
Quem
me convidou foi o ministro Sérgio Moro. Ele me mandou um e-mail no
dia 22. Dizia que eu seria suplente num primeiro momento, mas que
suplentes e titulares seriam ouvidos igualmente, e que esperaria a
primeira oportunidade para me tornar titular.
Quando
você e o ministro Sérgio Moro começaram a conversar sobre
segurança pública?
Estivemos
numa mesa em Davos e descobrimos muitas convergências. Os três
objetivos principais do ministro - a luta contra o crime organizado,
combate ao crime violento e combate à corrupção - são também as
três agendas principais do Instituto Igarapé, que dirijo. A agenda
do ministro, como a nossa, é uma agenda técnica. Temos
divergências, e disse isso a ele. Uma é a questão das armas. Não
somos contra a posse, mas somos a favor de um maior controle no
porte. Também discordamos na questão da legítima defesa. Abrem-se
ali, a nosso ver, vários caminhos para o aumento de crimes
violentos. Num estado democrático de direito o governo tem que ter o
monopólio da força, mas o policial tem que cumprir a lei.
Como
e quando você soube que seria exonerada?
Soube
hoje (28). Ontem, quarta-feira, dia 27, estivemos com o ministro
Sérgio Moro e sua equipe em Brasília. Ele havia feito esse convite
já em Davos, mas ainda não havia concretizado por problemas de
agenda. Expusemos os números e metodologias do Igarapé - como eu
disse, temos, como o ministro, uma agenda técnica, de combate ao
crime, sempre baseando-se em evidências. Foi uma conversa ótima.
Dela participou o secretário de Segurança Pública, o general
Guilherme Teophilo. Depois de um tempo o ministro teve que sair para
outra agenda e nós continuamos lá, com o general Teophilo e a
equipe do ministro. A continuação da conversa foi igualmente
produtiva.
O
que mudou de ontem para hoje?
Hoje
começaram os comentários nas redes sociais. Foi a polêmica do dia.
Colocaram a história na rede, e o Movimento Brasil Livre ajudou a
reverberar. São grupos que precisam de inimigos, e por isso não
estão comprometidos com o debate democrático. Hoje cedo eu estava
sentindo a temperatura bastante quente. Mandei uma mensagem para a
chefe de gabinete. O ministro Sérgio Moro me ligou de volta. Dado o
clima, eu sabia que o risco existia. O ministro me pediu desculpas.
Disse que ele lamentava, mas estava sendo pressionado, porque o
presidente Bolsonaro não sustentava a escolha na base dele.
O
ministro Moro havia falado com o presidente Bolsonaro antes de
convidar você?
Não
sei. Acho que não. Eu e os integrantes do Igarapé participamos de
vários conselhos na área de segurança. No governo do Estado do Rio
de Janeiro. Na prefeitura de São Paulo. Até na iniciativa privada -
há muito anos sou conselheira da Firjan, a Federação das
Indústrias do Rio de Janeiro. Em geral, ministros e secretários têm
toda a liberdade para escolher conselheiros. Tais conselheiros
costumam vir de todos os setores, com visões diferentes, diversas
maneiras de ver o mundo. Dá trabalho, mas é assim que a gente
constrói boas políticas públicas.
Você
vê algum paralelo entre seu caso e o de Mozart Araújo, outro nome
técnico, que acabou sendo desconvidado do Ministério da Educação
por pressão da base de Bolsonaro?
Vejo
total paralelo. Nos dois casos, ganha a polarização e perde o
Brasil. Tanto o Igarapé como o ministro Moro entendem que o diálogo
é a melhor ferramenta para construir políticas públicas. Ficou
muito claro nos dois episódios que o presidente Bolsonaro ainda não
se elevou à altura do cargo que ocupa. Um presidente tem que
construir diálogos e consensos. Quando ele diz que quem pensa
diferente é inimigo, mostra que não está à altura do País. Acho
que os brasileiros estão cansados disso. Uma prova é todas as
mensagens de apoio que recebi quando decidi ir para o governo, muitas
delas de gente que votou contra o Bolsonaro. Os brasileiros querem
gente que pense no País, não gente que fica procurando inimigos.
Uma
ponte com o Instituto Igarapé abriria caminho para a ponte com
outros grupos da sociedade civil. Independentemente da não nomeação
para o conselho, queremos continuar, sim, com uma conversa técnica
baseada em evidências com o ministro Moro e a área de segurança
pública - como aliás fazemos com vários governos, já há muito
tempo, independentemente de partidos. Lamento que o presidente não
tenha conseguido falar com sua base. Jogar pedra é fácil, difícil
é sentar junto e trabalhar. O Brasil precisa de gente que faça
isso.""
Fonte:
política ao minuto/Estadão conteudo
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