"Estatal segue determinação do governo Bolsonaro"
Por Jan Niklas, Alessandro Giannini e Nelson Gobbi
RIO
— “A Petrobras cortou o patrocínio de treze projetos culturais
que apoiava historicamente. A lista inclui o Festival do Rio de
cinema, o Anima Mundi e a Casa do Choro. A decisão foi antecipada
pela rádio CBN a
partir de um documento enviado pela empresa aos deputados federais
Áurea Carolina e Ivan Valente, do PSOL, ao qual O GLOBO também teve
acesso. Na área da música, o
corte também afeta o tradicional Prêmio
da Música Brasileira ,
que no ano passado recebeu R$2,5 milhões da empresa, e o Clube do
Choro de Brasília. No cinema, a lista inclui a Mostra de Cinema de
São Paulo, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o Festival
de Cinema de Vitória, o CineArte e a Sessão Vitrine. Já no teatro
foram cortados o Festival Porto Alegre em Cena e o Festival de
Curitiba.
A
decisão segue a determinação do governo Bolsonaro de reavaliar os
contratos de patrocínio da empresa, segundo informa a Secretaria de
Governo da Presidência da República no documento. Em fevereiro, o
presidente publicou no Twitter que,
embora reconheça "o valor da cultura e necessidade de
incetivá-la", acredita que esse financiamento "não
deve estar a cargo de uma petrolífera estatal".
No dia 11 de abril,
Diego Pila, gerente de patrocínios da Petrobras, disse em audiência
pública sobre patrocínios estatais na Comissão de Cultura da
Câmara, em Brasília, que a diretoria da empresa teve um corte no
orçamento destinado à comunicação, que abrange a cultura:
— Tinhamos um
orçamento aprovado para 2019 de R$ 180 milhões. Ele foi cortado em
cerca de 30%, caiu para R$ 128 milhões. Isso reduziu muito nossa
possibilidade de investimento para este ano. Temos um orçamento
destinado a cumprir com nossas obrigações contratuais e algum
espaço para novos projetos. Devemos nos próximos dias divulgar o
resultado do nosso edital de projetos de música, vamos colocar R$ 10
milhões em 19 projetos dessa área nos próximos dois
anos.
Procurada nesta segunda, a Petrobras respondeu por meio de sua assessoria:
Procurada nesta segunda, a Petrobras respondeu por meio de sua assessoria:
"A Petrobras segue
realizando apoio a projetos culturais. O orçamento para patrocínios,
assim como diversas outras áreas, sofreu redução à luz do Plano
de Resiliência divulgado no dia 8/3/19. Por esta razão, tivemos
projetos nas áreas de audiovisual e artes cênicas já concluídos,
que não foram renovados. Os contratos vigentes estão em andamento e
com seus desembolsos em dia."
A resposta diz ainda que a Petrobrás "está revisando sua política de patrocínios para readequar seu orçamento e em alinhamento ao posicionamento de marca da empresa, com intenção de maior foco nos segmentos de ciência & tecnologia e educação, principalmente infantil."
A resposta diz ainda que a Petrobrás "está revisando sua política de patrocínios para readequar seu orçamento e em alinhamento ao posicionamento de marca da empresa, com intenção de maior foco nos segmentos de ciência & tecnologia e educação, principalmente infantil."
Idealizador do Prêmio
da Música Brasileira, José Maurício Machline conta que estava
fechando um projeto mais amplo para a 30ª edição da cerimônia, em
2019, que incluiria um documentário e uma turnê. O produtor (que em
2017 conseguiu fazer a premiação sem petrocínio, com ajuda de
parceiros e dos artistas, que abriram mão de cachê) segue captando
com outras empresas via Rouanet para não deixar de realizar o evento
este ano.
— No fim do ano
passado estávamos com as negociações avançadas. O fim do
patrocínio nos pegou de surpresa, já que, segundo a própria
Petrobras, o Prêmio era uma das principais ações em termos de
retorno de imagem e marca — comenta Machline. — Não acho que
empresas como a Petrobras devam ser vistas como mecenas da arte. Por
isso mesmo eles sempre foram rigorosos nos processos para analisar o
quanto de retorno cada projeto gera.
Um dos diretores da Casa
do Choro ,
no Rio de Janeiro, Paulo Aragão informou que o instituto foi
comunicado na semana passada do corte. No entanto, afirmou que a casa
seguirá funcionando.
— Claro que a retirada
do patrocínio nos impacta, então é possível que seja uma série
(de shows) menor. Mas não deixaremos de fazer— afirmou.
Os organizadores do Anima Mundi, festival internacional de animação realizado concomitantemente no Rio e em São Paulo, já haviam sido avisados de que haveria o corte de patrocínio da Petrobras este ano. Das 26 edições do evento, realizado desde 1993, só as três primeiras não tiveram patrocínio da estatal.
Os organizadores do Anima Mundi, festival internacional de animação realizado concomitantemente no Rio e em São Paulo, já haviam sido avisados de que haveria o corte de patrocínio da Petrobras este ano. Das 26 edições do evento, realizado desde 1993, só as três primeiras não tiveram patrocínio da estatal.
Segundo César
Coelho, um dos quatro diretores do Anima Mundi com Aída Queiroz, Lea
Zagury e Marcos Magalhães, a Petrobras contribuía em média com R$
1,2 milhão anuais em um orçamento que girava em torno de R$ 3
milhões. Nos últimos anos, diz Coelho, esse valor diminuiu para R$
700 mil.
— Não faz muito sentido (o corte). O patrocínio cria um vínculo da empresa com a população, e isso tudo a custos interessantes. É um investimento mínimo em troca de um retorno enorme. Ainda mais considerando que é uma empresa que se identifica muito com o país. Ainda preciso entender isso — diz ele.
— Não faz muito sentido (o corte). O patrocínio cria um vínculo da empresa com a população, e isso tudo a custos interessantes. É um investimento mínimo em troca de um retorno enorme. Ainda mais considerando que é uma empresa que se identifica muito com o país. Ainda preciso entender isso — diz ele.
Cias estrangeiras acompanham situação
O diretor do Anima Mundi
diz que os organizadores pretendem continuar em busca de novos
patrocinadores tanto aqui no Brasil quanto no exterior. Um dos
principais argumentos utilizados é um estudo feito pela Fundação
Getúlio Vargas para o evento Rio de Janeiro a janeiro no qual se
atesta que a última edição do evento, no ano passado, movimentou
R$ 26,8 milhões e gerou R$ 2,6 milhões em impostos; trouxe 13,5
mil turistas ao Rio de Janeiro (nacionais e estrangeiros), que
gastaram entre R$ 300 (nacionais) e R$ 400 (estrangeiros), e gerou um
público estimado de 50 mil pessoas (Rio de Janeiro e São Paulo).
Diretor-geral do Porto
Alegre em Cena, um dos festivais de teatro mais tradicionais do
calendário brasileiro, Fernando Zugno diz que o fim do apoio da
estatal, depois de mais de duas décadas, gera um impacto inevitável
na programação (na última edição, a mostra recebeu R$ 510 mil da
empresa). Mas descarta qualquer risco de o evento não ser realizado,
em setembro.
— A Petrobras é a
maior patrocinadora da cultura no Brasil, e certamente que sua saída
é um baque para qualquer projeto. Mas ainda contamos com o
patrocínio da Brastemp e o apoio da prefeitura de Porto Alegre.
Estamos conversando com outras empresas e temos certeza que o
Porto Alegre em Cena vai seguir com a mesma potência — comenta
Zugno. — Quem trabalha com cultura no Brasil já tem um
traquejo, sabe que é impossível ter um orçamento fechado. As
companhias internacionais com quem temos uma longa relação
acompanham o momento no Brasil, e muitas se dispõem a colaborar, até
onde é possível."
Fonte: O Globo
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