“Apesar de afirmar que deve reavaliar a suspensão, o órgão diz que o orçamento previsto para 2019 é pouco até mesmo para pagar as atuais 84 mil bolsas”
Por
Estadão Conteúdo
“Por falta de recursos,
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), ligado ao Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), anunciou a suspensão da concessão de novas
bolsas de pesquisa enquanto o governo federal não liberar crédito
suplementar.
Apesar de afirmar que
deve reavaliar a suspensão no fim de setembro, o órgão diz que o
orçamento previsto para 2019 é insuficiente até mesmo para pagar
as 84 mil bolsas que já estão em vigência.
O
edital interrompido foi lançado em junho do ano passado e previa
duas chamadas de pesquisadores selecionados, uma no início e outra
no meio deste ano. No total, estava prevista a liberação de R$ 60
milhões para doutorandos, pós-doutorandos e professores visitantes.
Esse edital é um dos
mais importantes para quem tenta o doutorado-sanduíche, em que o
pesquisador desenvolve sua pesquisa em mais de uma instituição de
ensino.
O primeiro chamamento de
selecionados, feito no início do ano, representou um total de R$ 51
milhões em bolsas aprovadas para 781 projetos, sendo 142 para o
desenvolvimento de pesquisa no exterior.
Para o segundo semestre,
então, estaria prevista a liberação de R$ 9 milhões em novas
bolsas – apesar de o Conselho historicamente conseguir
complementação de recursos maior que o orçamento previsto
originalmente. Para este ano, no entanto, afirma que “é preciso
aguardar a situação orçamentária”.
A suspensão até o fim
de setembro tem como expectativa a liberação de um crédito
suplementar – o ministro pediu ao governo federal uma suplementação
de R$ 310 milhões, valor que seria necessário para pagar as 84 mil
bolsas em vigência.
O CNPq e a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), esta
ligada ao Ministério da Educação (MEC), são as principais
financiadoras da Ciência no Brasil. Em maio, a Capes já havia
anunciado o corte de mais de 6 mil bolsas de pesquisa – no caso, a
suspensão ocorreu em função do contingenciamento de recursos. Já
o CNPq, desde o início do ano, sabia e alertava o governo que o
orçamento é insuficiente para manter as bolsas e os compromissos
assumidos.
Exemplo
A suspensão, mesmo que
temporária, já impossibilitou Rodrigo Carvalho, de 39 anos, de
fazer o pós-doutorado em Filosofia para o qual foi aprovado na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O programa tem
início em setembro, quando ainda não vai ter garantia de bolsa.
“Não posso me mudar de
Estado, sem ter certeza de que vou ter bolsa. Como vou me manter?
Pós- doutorado é pesquisa de ponta, exige dedicação integral. Não
é possível trabalhar em outra área e fazer ciência de alto nível
ao mesmo tempo”, disse ele, que é de Sumaré (SP) e faz pesquisa
na área de filosofia aristotélica.
O CNPq vem sofrendo
sucessivos cortes desde 2014 e o orçamento que era de R$ 1,3 bilhão
passou para R$ 784 milhões neste ano. Desde agosto do ano passado,
quando foi definido o orçamento para 2019, os dirigentes do conselho
já alertavam que a quantidade de recursos iria praticamente zerar
seus investimentos em pesquisa.
A suspensão de novas
bolsas vai na contramão de discurso e promessas do MEC para o ensino
superior. Apresentado na semana passada, o programa Future-se, que
pretende trazer recursos privados para as universidades federais, tem
como um dos objetivos promover a internacionalização das
instituições para melhorar a qualidade.
O ministro Abraham
Weintraub diz que quer trazer professores “de universidades
estrangeiras de ponta” para dar aula no País.
Dentre os programas que
tiveram a bolsa suspensa pelo CNPq está, por exemplo, o de
professores viajantes. Essa ação permite ao pesquisador brasileiro
ou estrangeiro, “de reconhecida liderança científica ou
tecnológica”, colaborar com pesquisas científicas em instituição
diferente da qual é contratado."
Fonte: Exame e Estadão
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