“Se eu pintar o meu cão exatamente como ele é, eu terei dois cachorros mas nenhuma obra de arte.”.
Johann Wolfgang Goethe
O ano é 1940, pouco mais de um ano após o início da Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas alemães. Na região de Montignac, na França, quatro adolescentes resolvem explorar um buraco onde seu cachorro entrara. O que parecia ser uma toca de raposa era a entrada para uma caverna, onde os jovens surpresos encontraram diversas pinturas e desenhos.
Assim foi descoberta a gruta de Lascaux. Um verdadeiro museu pré-histórico, preservado no tempo e no espaço. Estudos posteriores indicaram que as pinturas datavam entre 15 e 17 mil anos atrás. São 1500 pinturas, retratando animais como touros, cavalos e mamutes, e deixando-nos uma mensagem que atravessou os séculos para chegar a nós. A beleza das pinturas impressiona a quem visita o complexo de grutas.
Debate-se o motivo pelos quais nossos antepassados decidiram registrar um pouco de seu mundo nas paredes de Lascaux. Mas quando tomei conhecimento de sua existência, pude perceber que, se são muitos os fatores que nos tornam humanos, a Arte ocupa um lugar inigualável.
Sim, muito devemos à Ciência e à Filosofia. Aumentamos nossa expectativa de vida, exploramos as estrelas, conseguimos entender um pouco de nosso planeta. Produzimos alimentos em uma quantidade que permitiria que nenhum ser humano passasse fome, se não fosse pela nossa ganância, filha do medo e da ambição. Desenvolvemos artefatos que nos permitem vencer o tempo e o espaço.
Mas a Arte é incomparável. Ela nos permite chegar onde nenhuma outra habilidade ou conhecimento humano consegue alcançar, nos permite ir além dos limites da mente. Se a Ciência nos possibilitou o conhecimento dos mistérios do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, a Arte nos permite sentir e mergulhar nesses mistérios. Brincar com eles.
Não que a Ciência não seja importante. O escritor precisa conhecer a técnica de estruturar suas ideias no papel (ou no disco rígido). A pintora sabe quais tintas misturar e quais pincéis utilizar. O dançarino sabe como preparar seu corpo para realizar os movimentos que trazem encantamento. A jogadora de futebol treina durante horas para absorver os fundamentos que a permitem construir um lance decisivo. O mecânico se aprimora durante muito tempo para conhecer os detalhes das engrenagens que fazem um automóvel se movimentar.
Talvez neste momento você esteja se perguntando porque considerei “jogar futebol” e “consertar carros” como formas de Arte. Porque Arte é expressão do ser humano. Tudo aquilo que é elaborado pelo ser humano com sentimento e maestria, oriundos do seu interior mais profundo, é uma forma de Arte. Toda forma genuína de expressão é Arte. E quando é realmente genuína, traz conexão, enlevo, arrebatamento.
Três semanas atrás, furou um pneu do motorhome que habito. Levei o pneu à uma loja recomendada pelo profissional da companhia de seguros que efetuou a substituição do pneu danificado. Na loja, um rapaz muito simpático e atencioso realizou o conserto do pneu avariado. Conversando com ele, soube que ele trabalhava com conserto de pneus há trinta anos. E mais importante: ele gosta do que faz, ele se sente realizado com seu trabalho. Orgulhoso, me mostrou o material com o qual faria o conserto do pneu – “alta qualidade, eu garanto!” – e, terminado o serviço, fez questão de mostrar como estava a região antes danificada. “Pode ir tranquilo. Eu fiz como se fosse para mim.”. Fiquei profundamente emocionado com esta declaração simples, profunda e singela. Uma conexão se fez definitivamente entre nós.
Isto é Arte.
O ano é 1994. Estou sentado em uma cadeira na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. Em uma noite morna, assisto a uma apresentação de Wynton Marsalis e sua banda. E em determinado momento daquele espetáculo inesquecível para mim, senti-me como se minha própria alma tivesse sido elevada a um patamar que eu desconhecia.
O ano é 1998. Estou com uma amiga em uma exposição das obras de Salvador Dali. Um quadro me transporta para dentro de gavetas internas a serem abertas, e relógios dissolvidos me fazem perder a noção do tempo.
O ano é 2001. São 42 minutos do segundo tempo do jogo decisivo do campeonato carioca. Meu time tem direito a uma cobrança de falta perto da área, e o jogador sérvio pega a bola com as mãos para ajeitá-la no campo. Um chute improvável, uma parábola perfeita, um êxtase para milhões.
Desde tempos imemoriais que a Arte nos lembra que somos mais do que seres buscando saciar a fome, a sede, a insegurança e as necessidades sexuais. Pela Arte, expressamos o que percebemos do indiferente Universo à nossa volta e como conseguimos transformar essa indiferença em sentido. A expressão artística nos permite abrir para o mundo e criar pontes com os outros. E por isto a Arte é tão “perigosa”. Perceba que governos autoritários ou totalitários perseguem ou coíbem formas de arte e artistas que não seguem o padrão oficialmente autorizado ou definido como “adequado”. Ditadores não gostam de Arte porque ela torna as pessoas poderosas. Fracos não sabem lidar com pessoas empoderadas.
Desenvolva sua Arte. Expresse-se. Trave contato com aquilo que você faz que enleva as pessoas, que as fazem se sentir gratas por fazê-las se emocionar. Apenas você é capaz de fazer as coisas que faz, apenas você é capaz de desenhar o cachorro como você o sente. Ou fritar um ovo, ou pendurar um quadro na parede. Faça isto inteiro, de corpo e alma. Seus riscos na parede podem durar 6 meses ou milhares de anos, não importa. O que importa é que para alguém, em algum momento, sua expressão trará enlevo a essa pessoa. E esta conexão durará para sempre.
Exercite a Arte, e travará contato consigo mesmo, em um nível cada vez mais profundo. E cada vez que você se expressa, exercita o que temos de mais distinto entre todos os demais seres do planeta: a Autenticidade.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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