"O movimento inicial gerou um desequilíbrio. É este equilíbrio perdido que os jogadores buscam novamente – seja com a derrota de um dos adversários, seja com o empate.”.
Ricardo Teixeira, jogador e professor de xadrez
Gosto muito de jogar xadrez. É um jogo fascinante em vários aspectos,
começando pela maravilhosa lenda de sua criação, atribuída a um indiano
chamado Lahur Sessa. Aprendi a jogar por volta de dez anos de idade, mas
apesar de gostar bastante do jogo, nunca pensei em dedicar-me a estudá-lo e
participar de campeonatos, como milhões de praticantes ao redor do mundo.
Esta decisão veio apenas quando deixei a vida corporativa, disposto a dar
mais atenção na realização de sonhos pessoais. Encontrei um professor e
comecei a me preocupar-me mais do que em apenas mover as peças
corretamente.
Meu primeiro professor faleceu em fevereiro de 2021, decorrência de
complicações de um AVC. Ficamos quase três anos juntos. Nossas conversas,
não apenas sobre o jogo, mas também sobre outros aspectos da vida, ficarão
para sempre marcadas em minha memória e em meu coração. Em uma destas
aulas, falamos bastante a respeito da filosofia do jogo. E o professor Ricardo
Teixeira comentou algo que me fez refletir bastante, porque para mim o
comentário extrapolava o aspecto do jogo.
Tabuleiro arrumado, peças perfiladas, ele disse algo que parece óbvio. Mas
quantas vezes o óbvio pula em nossa frente, causando espanto? Ao mover um
peão no centro do tabuleiro, ele comentou: “o movimento inicial gerou um
desequilíbrio. É este equilíbrio perdido que os jogadores buscam
novamente – seja com a derrota de um dos adversários, seja com o empate.”.
Depois que a aula terminou, fiquei refletindo sobre aquela frase. E dei-me
conta do quanto o “desequilíbrio” é essencial à vida. Ventos ocorrem quando há
desequilíbrio entre massas de ar quente e ar frio, provocando a movimentação
do ar. As correntes marítimas apenas acontecem não apenas pela diferença de
temperatura entre níveis de água em uma faixa do oceano, mas também pelas
diferenças de salinidade entre essas faixas. Nossas células apenas se alimentam
porque há um desequilíbrio entre elementos químicos existentes em seu interior
e o ambiente externo. E o que não é o andar senão uma “queda controlada”
– nós literalmente provocamos a nossa queda para frente, que é impedida por
uma perna, cujo impulso provoca outra “queda controlada”, e assim por diante?
Poderia relacionar outros exemplos, mas acho que consegui exprimir que, sem
um mínimo de desequilíbrio, a vida não acontece. As peças ficam paradas. Não
há jogo.
Uma “pessoa centrada” não é alguém que nunca se desequilibra. Na verdade,
talvez a pessoa centrada seja aquela que sabe que vida é “perfeito desequilíbrio”
– um equilíbrio baseado no dinamismo e no movimento, e não na estagnação.
E por ter esta consciência, sabe que o centro de uma pessoa não é o centro
matemático de um círculo, o ponto onde o compasso foi colocado para traçar a
figura geométrica. É uma faixa de variação que ela conhece muito bem, uma
faixa no qual ela direciona sua atenção para não perder a capacidade de
resposta. Ela sente dor, mas sabe soltar a dor para que não se torne sofrimento.
Ela ri e sorri, mas sabe o quanto isto traz positividade e alegria pelo momento.
Ela sabe que estabilidade é importante, mas não tanto a ponto de significar
imobilidade ou alienação. Ela entende o valor dos recursos, mas sabe que o
mais importante de se possuir as coisas é não ser possuído por elas. Tem fé,
mas não se cega. Tem conhecimento e mantém em equilíbrio dinâmico suas
dúvidas e certezas. É consciente da importância do limite, mas não a ponto de
limitar-se por isto.
Desta maneira, ainda que lentamente ou de forma imperceptível, o “centro”
desta pessoa se expande para além de um mero ponto. Sua “faixa de variação”
começa a se ampliar, e da mesma maneira que as raízes de uma árvore
frondosa, se torna larga e profunda. Saberá controlar as suas quedas, perceber
as diferenças que provocam ventanias e tempestades. E, assim, alcançará o
verdadeiro equilíbrio, não aquele baseado na negação e na restrição, mas
aquele baseado na aceitação e na capacidade de resposta. É assim que
alcançamos a Temperança.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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