“Qualquer tecnologia suficientemente avançada é equivalente à mágica.”.
Arthur C. Clarke
Há poucos dias recebi uma mensagem de uma amiga. Era um apelo de ação
pela paz. Fazendo um brevíssimo resumo, o autor do texto (um ‘estudante de
física quântica’) solicitava às pessoas para que, ao beber água, recitassem a
frase “o mundo está em paz, e eu também”. Desta forma, ainda segundo o
autor do texto, as milhões de pessoas repetindo a mesma frase gerariam
os meios propícios para a concretização dos objetivos mentalizados.
Li e reli a mensagem com a devida atenção e mergulhei em algumas reflexões.
Uma de nossas necessidades mais básicas é a necessidade de segurança. Até
mesmo por fatores biológicos elementares de manutenção da sobrevivência,
precisamos nos sentirmos seguros. Qualquer fator (real ou imaginário) que
gere risco à nossa integridade origina o medo, a sensação natural que nos faz
agir para alcançar novamente a estabilidade e segurança.
Logo, se eu consigo reduzir ou eliminar os riscos à minha vida – ou o que
considero tão importante quanto - mais seguro eu me sentirei. Mas tudo é
tão imprevisível, tantas coisas podem acontecer repentinamente. Seria tão
bom se eu tivesse o poder que me permitisse reduzir ou eliminar de vez os
riscos que podem afetar a minha sobrevivência.
Este poder se chama “controle”. Se eu controlo algo, posso reduzir ou eliminar
as probabilidades de que algo ruim pode acontecer comigo. Controle absoluto
significa apagar por completo o que me causa risco. Posso evitar que uma
doença me ataque repentinamente. Meus inimigos podem ser imobilizados,
mortos, neutralizados.
O clima sempre estará do jeito que eu queira que esteja. Nada me alcançará,
nada me derrubará. Estou em segurança. Estou em paz. A necessidade de
segurança, e consequentemente, de se recuperar esta sensação quando algo
a coloca em risco, provavelmente foi o berçário de infinitos deuses e deusas.
Ouve-se a tempestade chegando, e rogo proteção ao deus do trovão.
A seca arruína a colheita, e peço perdão à deusa da abundância. Meus
inimigos desejam matar-me, e peço então proteção ao deus da guerra para
que eles conheçam antes de mim o destino que me desejam. Talvez a
necessidade de segurança tenha gerado mais devoção que a necessidade de
transcendência. A questão é que muitos deuses e deusas surgiram para explicar
o que era inexplicável ao ser humano, e que poderiam afetar sua sobrevivência
de alguma maneira. Rituais surgiram, uma forma de aproximação com a
divindade responsável por determinado fenômeno, e com isto, alcançar proteção
e realização de eventuais pedidos.
O raio não me atingirá, a colheita será sempre farta, as doenças não me
atingirão, meus inimigos cairão perante a mim. E então, vem a Ciência.
E revela que o relâmpago não é resultado das marteladas de Thor, e Zeus brincando de tiro ao alvo. A probabilidade de sucesso da colheita pode ser incrementada se eu realizar as etapas adequadas. As doenças podem ser prevenidas ou em grande parte dos casos, curada com os devidos tratamentos disponíveis.
O que era magia tornou-se tecnologia, reduzindo riscos, aumentando a nossa
capacidade de gerar segurança e sobrevivência física, expandindo nossas
fronteiras, nossa capacidade de agir. As divindades foram ficando
desempregadas. Elas perderam o monopólio da capacidade de explicar o
universo e gerar proteção. Mas o incontrolável e o imponderável ainda nos
rondam. Nem todas as doenças podem ser curadas, nem todas as colheitas
podem ser salvas, pessoas ainda morrem ou são feridas por relâmpagos.
A violência alheia pode nos ferir.
E assim, ainda buscamos controlar o incontrolável, sentirmo-nos seguros,
manter a certeza do resultado de nossas ações, mesmo que para isto, muitas
vezes, optemos por viver em gaiolas cujas grades são formadas pelas
crenças que temos – políticas, religiosas, culturais.
Então, você pode me dizer, que de nada adianta alcançar a paz recitando mantras
ao beber água. Ou que a oração do devoto ou do crente de nada vale. Mas coloco aqui que seria contraditório se afirmar isto. Por um simples motivo: o sentimento de segurança e proteção é isto – sentimento. Algo subjetivo, particular, inalcançável para quem está de fora.
Se é o sentimento de risco que nos torna prisioneiros do medo e marionetes
de quem sabe manipular esse medo, é cuidando deste sentimento que nos
tornará menos vulneráveis ao que nos pode acontecer externamente.
E quem sabe não seja este o ponto de equilíbrio entre o objetivo e o subjetivo,
a Ciência e a Fé, o concreto e o abstrato? Tudo o que está dentro do meu
controle no mundo concreto e externo, eu faço. Por exemplo: se eu decidir
viajar de carro, posso tomar todas as medidas preventivas possíveis: verifico
o estepe, os acessórios, faço uma revisão na mecânica, planejo meu percurso, obedeço às regras de trânsito.
Mesmo com tudo isto, o risco não será eliminado. Alguma voz interna,
programada para soltar alarmes quando minha segurança for ameaçada,
poderá dizer que mesmo assim algo poderá acontecer. Essa voz tem razão.
É neste momento que entoamos mantras, rezas, canções, mentalizações.
Não para controlar o mundo à nossa volta, mas para controlar nosso mundo
interno – o único universo no qual podemos almejar em controlar totalmente.
As chaves para se entrar nos salões do universo externo que compartilhamos
são comuns – entendo que podemos chamar de Ciência.
Mas cada um de nós possui um universo particular cujas portas são abertas
apenas por chaves particulares. E uma destas chaves pode ser uma frase
sobre Paz recitada quando se bebe água. Por que não?
Termino as reflexões, agradecendo pela mensagem que recebi e pelas lembranças de que me trazem – o único controle possível é sobre mim mesmo, e este meu controle é que determinará minhas ações no mundo à minha volta. Bebo um copo de água, desejo que a paz que está mim reverbere no meu entorno, e agradeço aquilo que deuses e deusas nos concedem para continuar nossa jornada rumo ao infinito: o Otimismo.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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