Por
JOÃO SABOIA | PROFESSOR
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
“O
Brasil já perdeu 818.918 postos de trabalho de janeiro a outubro
deste ano, segundo dados do Cadastro Geral do Ministério do
Trabalho. A taxa
de desemprego já
alcança a cifra de 7,9% em outubro nas seis principais capitais do
país, segundo a Pesquisa
Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística(IBGE).
Há um ano, a taxa era de 4,7% nas regiões metropolitanas de São
Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. Na
capital baiana, o desemprego já chega a 12,8% (era de 8,5% em
outubro de 2014).
O
que já é ruim vai ficar ainda pior até o final do ano. As
projeções do mercado é que o número de desempregados chegue a 1,5
milhão até dezembro, lembrando que o final de ano é o que
concentra demissões. “O fundo do poço ainda está longe”,
avalia João
Saboia,
especialista em mercado de trabalho da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. “Se continuarmos nesse ritmo, poderemos chegar rapidamente
aos níveis de 2003, quando a taxa de desemprego era de 12%”,
lamenta Saboia, ainda que não precise em quanto tempo essa previsão
pode se realizar.
Pela
Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, outra métrica do IBGE,
que faz um levantamento trimestral com abrangência nacional, o
desemprego chega a 8,9% entre julho e setembro deste ano. No mesmo
período do ano passado, a taxa trimestral era de 6,8%.
Entre
os oito anos do governo Lula (2003-2010) e os quatro primeiros da
presidenta Dilma
Rousseff foram
criados 20 milhões de empregos, o que manteve o Brasil no quadro de
pleno emprego. Os erros de gestão do primeiro mandato de Dilma, que
descontrolaram a inflação, e os exageros de gastos públicos no ano
passado, somados à desaceleração da China que afeta a América
Latina, estão cobrando seu preço. Os cortes de vagas chegam como um
duro golpe para o país, e para o Governo Rousseff, fruto de uma
crise econômica que se retroalimenta com a crise política que
assolou o país desde o início do segundo mandato da presidenta.
“Vejo uma década perdida até 2020”, prevê o economista Luís
Eduardo Assis, lembrando que 2015 vai terminar muito pior do que as
piores projeções feitas no início do ano. “Perdem-se postos de
trabalho, a renda salarial e o comércio já sente os efeitos”,
completa.
Pelas
contas de Assis, a tal década perdida começa no primeiro ano de
Dilma, justamente quando a presidenta confiou demais nos anos
dourados do seu antecessor. Um dos equívocos da presidenta foi
apoiar a economia no sucesso da Petrobras, responsável por puxar
investimentos na economia. A Lava Jato, porém, tirou a petroleira do
rumo, assim como o Governo.
Os
problemas da presidenta se agravam ainda mais com os nós políticos
que paralisaram seu Governo e que parecem não ter fim. Desde o
início do ano a mandatária enfrenta a perda de prestígio com
protestos de rua, baixa popularidade, traições no Congresso de
supostos aliados e a pressão pelo seu impeachment. Há algumas
semanas ela até havia encontrado uma certa calmaria depois que seu
principal inimigo, o deputado peemedebista Eduardo Cunha, presidente
da Câmara, perdeu força ao ficar sob a mira da Lava Jato com as
denúncias de contas na Suíça.
Na
semana passada, no entanto, Dilma sofreu um duro golpe com as
gravações que flagraram o líder do PT no Senado, Delcídio do
Amaral, propondo fuga e mesada paga pelo banco BTG Pactual ao
advogado do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. O novo
escândalo volta a aumentar o clima de desconfiança e de paralisia
do Governo e por consequência da economia. “A recessão está se
aprofundando”, afirma Assis. Tudo isso às vésperas do final do
ano, época em que as pessoas tentam renovar suas esperanças, mas no
Brasil está difícil.
O
desânimo geral com as más notícias e o desemprego em curso mantêm
um clima de apreensão entre os brasileiros, que temem ser o próximo
a ficar sem trabalho. Sob esse clima, gastam menos, o que torna a
vida das empresas mais difícil, pois sem vender seus produtos e
serviços, têm menos dinheiro em caixa, e se veem pressionadas a
demitir gente. Eis o ciclo vicioso que explica a recessão de 2015 no
Brasil, que deve fechar o ano com queda de 3% do PIB. Num beco sem
saída, Dilma enfrenta expectativas tão desalentadoras para 2016
como às deste ano.”
Fonte: El País
Fonte: El País
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