Bento Rodriguês depois da tragédia |
Por
Fábio Fabrini e Luísa Martins - Estadão
“O Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM) foi “falho e omisso” ao
fiscalizar a segurança das barragens brasileiras, contribuindo para
a tragédia de Mariana (MG), em 5 de novembro do ano passado. A
conclusão consta de relatório sigiloso da área técnica do
Tribunal de Contas da União (TCU), ao qual o Estado teve acesso. O
documento aponta que a autarquia não foi capaz de garantir a
implementação, pela mineradora Samarco, dos padrões exigidos pela
Política Nacional de Segurança de Barragens, em vigor desde 2010.
Segundo a auditoria,
solicitada pelo Senado Federal cinco dias após o rompimento da
Barragem de Fundão, o fracasso institucional do DNPM –
consequência de falta de planejamento, de pessoal e de recursos
financeiros – mantém aceso o alerta para o “risco latente e
potencial de novos acidentes envolvendo barragens de rejeitos de
mineração no País”. O texto deve ser votado hoje pelos
ministros. Procurado por meio da assessoria de imprensa, o DNPM não
se manifestou.
Bento Rodrigues depois da tragédia. |
Técnicos da Secretaria
de Fiscalização de Infraestrutura de Petróleo, Gás Natural e
Mineração do TCU concluíram que o controle das documentações de
segurança exigidas por lei das empresas – em especial o plano de
ação de emergência – “não é realizado de forma sistemática
e rotineira”, denotando “fragilidade e precariedade” do DNPM,
que teria uma estrutura “deficiente”.
O relatório afirma que,
nos últimos seis anos, as despesas discricionárias da autarquia,
nas quais estão incluídas as relativas às atividades de
fiscalização, estão em declínio progressivo. Além disso, o atual
quadro de servidores equivale a apenas 62% do ideal. O maior déficit
de pessoal está justamente na superintendência de Minas: para
atender à demanda de trabalho da unidade, seriam necessários 384
funcionários. Só há 79.
Risco
Até os critérios de
classificação de risco são questionados pelos técnicos do TCU.
Eles argumentam que a catalogação das barragens em alto, médio ou
baixo risco – como a de Fundão era qualificada – tem por base
informações declaradas unicamente pelas mineradoras. “Sem análise
crítica” dessas informações pela autarquia, os dados seriam
pouco confiáveis. “Seguro alegar que o DNPM não detinha, à época
do acidente, conhecimento acerca da situação real da barragem”,
continua o relatório, que critica ainda a falta de conhecimento
especializado dos técnicos do órgão – o que impede avaliações
mais aprofundadas das situações das barragens. Atualmente, as
vistorias são simples check-list.
A Samarco, responsável pelas barragens, poluiu o Rio Doce. |
Apesar de sinalizar os
pontos em que a atividade do DNPM tem sido insatisfatória, o
relatório recomenda que não se individualize condutas e
responsabilidades pela tragédia, que deixou 18 mortos e 1
desaparecido, além de causar danos ambientais irreversíveis ao Rio
Doce. “A negligência no trato com os deveres previstos em lei está
entranhada na instituição.”
Também
falta integração entre o órgão central do DNPM e as
superintendências regionais. “Como resultado, verificou-se que
apenas 35% das barragens classificadas como de alto risco foram
fiscalizadas de 2012 a 2015”, pontua o texto, que enfatiza a falta
de um sistema nacional de armazenamento de informações. “Dados
decorrentes das fiscalizações permanecem regionalizados e
fragmentados dentro de cada superintendência, prejudicando uma visão
global, pelo DNPM, da situação da segurança de barragens de
rejeitos no Brasil.”
Os auditores recomendam
que se instituam novos procedimentos de acompanhamento, controle e
avaliação das fiscalizações realizadas em todo o País, como a
implementação de metas e indicadores de qualidade e a padronização
de atividades como análises e pareceres técnicos. “Caso a
fiscalização não seja aprimorada, o controle exercido pelo
departamento não contribuirá para evitar ou mitigar eventuais
consequências de novas tragédias, como a que se viu na Barragem de
Fundão”, conclui o relatório.”
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão
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