Uso de cocaína antes dos 18 anos provoca maiores prejuízos a funções do cérebro como atenção e memória – Foto: Juniorbolivar/Wikimedia Commons |
Com informações da Agência Fapesp
Quanto
mais jovem, pior
“Pesquisadores
da Faculdade de Medicina da USP demonstraram de forma objetiva algo
que especialistas em neurociências já suspeitavam: pessoas que
começam a usar cocaína durante a adolescência desenvolvem défices
cognitivos mais significativos do que quem inicia o consumo da droga
na vida adulta.
Foram
detectadas diferenças marcantes principalmente em habilidades como
atenção sustentada (requerida para a realização de tarefas
longas, como o preenchimento de um questionário), memória de
trabalho (necessária para o cumprimento de ações específicas,
como a de um garçom que precisa gravar o pedido de cada uma das
mesas até o momento de entregar o prato corretamente) e memória
declarativa (que corresponde ao armazenamento e recuperação de
dados após um período de intervalo).
Além
disso, no grupo de usuários com início precoce foi 50% mais
frequente o consumo concomitante de maconha e 30% de álcool, quando
comparado com dependentes que iniciaram o uso da droga depois dos 18
anos.
"A
adolescência é considerada uma das etapas cruciais do
desenvolvimento cerebral, quando o excesso de sinapses é eliminado e
as estruturas essenciais para a vida adulta são selecionadas e
refinadas. O uso de drogas nesse momento pode atrapalhar o processo
de programação do cérebro e fazer com que conexões importantes
sejam perdidas," comentou o professor Paulo Jannuzzi Cunha,
coordenador do projeto.
Estudo
Um
dos diferenciais deste estudo foi medir os impactos cognitivos
comparando dois grupos de dependentes que estavam sob uma condição
de abstinência controlada.
"Muitos
estudos deste tipo avaliam indivíduos em ambulatório, sem a certeza
de que, ao chegar em casa, eles não farão uso da droga. No nosso
caso, porém, todos os participantes estavam internados. Assim, temos
a certeza de que os achados não estão relacionados aos efeitos
agudos da cocaína ou de outras substâncias," explicou o
pesquisador.
Foram
incluídos na amostra 103 pacientes dependentes de cocaína - 52
deles no grupo de usuários com início precoce (antes de 18 anos) e
51 no grupo com início tardio (após 18 anos). A faixa etária dos
participantes variou de 20 a 35 anos e a proporção de homens e
mulheres foi semelhante. Entre os dependentes com início precoce
destaca-se um participante que faz uso de cocaína desde os 12 anos.
Um terceiro grupo de controle tinha 63 pessoas não usuárias de
substâncias psicoativas.
Para
o pesquisador, os resultados mostram ainda que os pacientes mais
graves, ou seja, com déficits cognitivos mais acentuados, necessitam
de tratamento mais intensivo e multidisciplinar, com a associação
de terapia e medicamentos.”
Fonte: Diário da Saúde
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