sábado, 28 de maio de 2022

"A Síndrome do Pequeno Homem"

“Se quer descobrir a verdadeira natureza de um homem, dê-lhe poder. Quase todos os homens conseguem superar a adversidade – apenas um grande homem consegue superar a prosperidade.”.

Robert G. Ingersoll


Sempre que passo em frente a um ponto de ônibus e vejo estudantes aglomerados esperando a chegada do transporte que os levarão a seus destinos, lembro-me de minhas próprias experiências de quando usava uniforme escolar e utilizava o transporte público. Muitos foram os momentos divertidos, conversando, brincando e aguardando em turma a vinda do ônibus que nos levaria de volta às nossas casas. 

Naquela época, os estudantes podiam viajar gratuitamente de ônibus, desde que uniformizados. Era lei. Havia situações que o motorista poderia solicitar a caderneta ou carteira do colégio para que o estudante “provasse” sua condição de estudante. Mas a gratuidade estava garantida. O condutor devia apenas abrir a porta e permitir que os estudantes entrassem – no caso, entrávamos pela porta de saída, pois se entrássemos pela porta normal de entrada dos passageiros, seríamos obrigados a passar pela roleta, o que acarretaria o pagamento da passagem.

A lei era simples e clara: gratuidade de transporte para os estudantes uniformizados. O colégio onde eu estudava exigia uniforme. Eu e meus amigos e amigas estávamos sempre trajados conforme as normas da instituição que estudávamos. E mesmo assim, era totalmente incerto que fosse permitida a nossa viagem no ônibus que desejássemos.

Por um motivo muito simples: dependia do motorista.

Havia condutores que simplesmente não permitiam o nosso ingresso no ônibus. Quando avistaram nossos gestos para que parassem, passavam direto. Quando isto não era possível, pois algum passageiro ou passageira desejava descer no ponto de ônibus onde estávamos, simplesmente negava nossa entrada, fechando a porta imediatamente após a descida do passageiro.

Com o tempo, já conhecíamos os motoristas que não nos atendiam, e quando os avistávamos simplesmente não fazíamos mais sequer menção de entrar no ônibus, pois seria uma tentativa infrutífera. Só nos restava esperar pelo motorista seguinte, torcendo para que fosse um profissional que permitisse nossa entrada. Alguns eram tão simpáticos que fazíamos questão de esperar que ele passasse para que, então, subiremos em seu ônibus. 

O que diferenciava um motorista do outro? A lei era a mesma para todos, mas qual o motivo que fazia com que alguns impedissem nosso ingresso no ônibus e outros nos recebessem sorrindo?

Muitos anos depois, lendo um artigo em uma revista que a memória não me traz o nome, tomei conhecimento de um fenômeno muito interessante, chamado de “Síndrome do Pequeno Poder”.  Segundo a Psicologia, esta síndrome ocorre com as pessoas que, ao receberem uma parcela de poder, começam a agir com autoritarismo, tomando decisões que lhe convém, sem se importar com as consequências destas decisões ou mesmo se elas extrapolam alguma norma, lei ou convenção moral.

O segurança da loja é agressivo e violento com suspeitos de furto no estabelecimento? O professor subjuga os alunos sob o peso das avaliações? O síndico toma decisões sem levá-las ao colegiado do condomínio e se recusa a abrir as contas pelas quais é responsável? A gerente da boutique se recusa a vender uma roupa para uma cliente por não se encaixar no seu “padrão”? Alguém busca contornar uma situação com a frase “você sabe com quem está falando?” e puxa um documento qualquer, buscando dar a popular “carteirada”? O Diretor de uma empresa assedia moralmente seus subordinados? O Presidente, o Governador ou o Prefeito se recusam a obedecer às leis e afrontam o que deveriam proteger? 

Todos os casos acima são exemplos de pessoas que tem a Síndrome do Pequeno Poder. Eu apenas não concordo com o nome dado. Primeiro, porque não acredito que haja um “pequeno poder”. O “poder”, qualquer que seja ele, tem potencial para causar resultados catastróficos se não for bem utilizado. 

Segundo, porque a causa precisa ser bem identificada: se um poder é mal utilizado, a origem está naquele que o maneja mal. Abusam do poder que possuem por insegurança, medo, necessidade de aceitação, egocentrismo. De certa maneira, o poder as faz sentir-se “grandes”, uma forma de se afirmarem não apenas para os outros, mas principalmente para si mesmas.

Então, a “Síndrome do Pequeno Poder” é, na verdade, a “Síndrome do Pequeno Homem”, alguém que se sente pequeno e precisa subir em uma escada para se sentir importante. Sem a escada, ele não é nada, o que explica as reações que essas pessoas têm quando confrontadas, mesmo que estejam fora das leis, da moral ou da Ética.

A Síndrome do Pequeno Homem é facilmente identificável. Se alguma pessoa age deliberadamente, de maneira a originar humilhação, sofrimento e subjugação, utilizando para isto de algum poder que possui no momento, vemos o pequeno homem em ação, buscando no poder uma grandeza que ele mesmo não acredita que possua. 

Por isto que uma das melhores maneiras de se conhecer alguém é, justamente, dando-lhe poder. Suas ações revelarão quem é a pessoa, como uma lâmpada acendida em um porão escuro.

Todo ser humano tem algum poder, e exercê-lo adequadamente demanda consciência e grandeza. As pessoas que exercem seu poder de maneira a construir bem-estar, harmonia e justiça, são aquelas que possuem o melhor antídoto para a Síndrome do Pequeno Homem: a Modéstia.

Qualquer semelhança com o atual mandatário do país não é mera coincidência!

Maurício Luz

Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.

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