Por
Thais Estaquer
“Uma
pesquisa desenvolvida pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do
Nordeste (Cetene) pretende aposentar a temida broca usada pelos
dentistas no tratamento de cárie. Coordenada pelo professor do
departamento de Química da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), André Galembeck, a inovação traz uma fórmula composta de
nanopartículas de prata que tem ação bactericida. O custo da
aplicação não passaria de R$ 1.
Galembeck
explica que já existe um produto que é comercializado no Japão e
em outros países, porém, por ter maior concentração de prata,
deixa os dentes totalmente pretos. "O nosso produto tem uma
coloração amarelada, mas volta a ficar branco em 48h e o composto
continua agindo por 12 meses".
A
quantidade de prata no composto é 600 vezes menor do que esse já
comercializado. Por isso, o impacto é bem menos abrasivo do que o
existente. "Se você consegue um efeito clínico usando uma dose
menor do que o princípio ativo, isso vai ser sempre melhor. Qualquer
que seja a droga, é um corpo estranho no organismo", explica.
O
coordenador ainda credita esse resultado ao fato de serem
nanopartículas. "O que já existe no mercado é uma molecula
com 30% de prata na concentração. Isso é muito alto. O nosso
possui algumas partes por milhão", exemplifica.
Fórmula penetra os túbulos dentários (foto) e libera as nanopartículas aos poucos (Foto: Francisco Rangel / Divulgação) |
Funcionamento
A
aplicação não leva mais de cinco minutos, segundo o coordenador.
"É só a criança por a cabecinha para trás. O dentista molha
uma espécie de pincel que tem uma esponja na ponta e aplica o
composto como se estivesse pincelando. É rápido e não dói",
garante.
A
fórmula penetra os túbulos dentários e libera as nanopartículas
aos poucos. "Em cáries não muito profundas conseguimos tratar
e resolver sem necessidade de ir lá e debastar [limpar] o material
morto. Sem agressão a boca e sem trauma para a criança",
completa o coordenador.
Com
cinco anos de desenvolvimento, o produto teve eficácia em 85% dos
casos de cárie. Ao todo, foram analisadas 5,5 mil crianças entre 5
e 7 anos de idade no estado. Do total, 2,2 mil tinham alguma lesão
nos dentes. Mesmo sendo aplicado a fórmula em todas elas, apenas
foram coletadas informações de 130 crianças.
"Quando
fazemos a parte cientifica temos que cumprir uma série de
requisitos, que se a criança não cumprir é descartada da pesquisa
na hora. Então sabemos que tudo funcionou numa proporção muito
maior do que a que entrou na conclusão", menciona Galembeck.
Nanopartículas de prata deixam dente amarelado no início, mas depois eles voltam a ficar brancos (Foto: Divulgação / Cetene) |
Baixo
custo
Por
ser um produto de baixo custo e que não precisa de uma grande
estrutura clínica para aplicá-lo, a intenção do projeto teve
início com o objetivo humanitária de universalizar o acesso ao
tratamento dentário para a população carente. "Segundo uma
pesquisa divulgada pelo IBGE, em 2011, nós temos 17 milhões de
crianças com menos de 12 anos que nunca tiveram acesso a esse
tratamento. Fizemos um trabalho em uma escola pública de Gravatá
[no interior do estado] na sala de aula mesmo, nas próprias
cadeiras. Isso é incrível", informa Galembeck.
Com
uma equipe formada por oito pessoas, o projeto contou com a
colaboração da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a
Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco, além do
apoio de uma pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Hilzeth Pessoa. "Ela ajudou nos primeiro ensaios de
microbiologia porque antes de se testar nas crianças nós testamos
em laboratório".
Agora,
a equipe está trabalhando em duas frentes. No desenvolvimento de um
produto para o mercado que previne a cárie e na droga de combate.
"Temos resultados que mostram a mesma fórmula impedindo a
formação de placa bacteriana, que é onde começa o processo de
cáries". A proxima meta dos pesquisadores é iniciar os estudos
para incorporar o que foi descoberto no projeto em pastas de dentes e
enxaguantes bucais. O que deve acontecer já no começo de 2016.
O
próximo passo para a equipe é tornar todas essas descobertas
disponíveis no mercado. "Já recebi algumas ofertas. A gente
conseguiu o primeiro gol, mas se não conseguir lá no final
universalizar o acesso para as crianças carentes ao tratamento
dentário eu não resolvi o problema. Esse é o caminho que vamos
continuar andando", espera Galembeck."
Fonte: G1 - PE
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