Proposta de emenda à
Constituição que estabelece que a "vida começa na concepção"
foi aprovada em comissão na Câmara dos
Deputados por 18 votos a 1.
Por quê são deputados homens, quase 90% da Câmara.
por Camila
Vaz
“Movimentos
feministas protestam contra violência contra mulher.
Uma comissão especial da Câmara dos Deputados que trata da licença-maternidade em casos de bebês prematuros aprovou nesta quarta-feira (8) a chamada PEC "Cavalo de Troia". A Proposta de Emenda a Constituição 181/2011 determina que "a vida começa desde a concepção", a fim de barrar a descriminalização do aborto no Brasil em todos os casos.
O parecer do relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 181/2015, deputado Tadeu Mudalen (DEM-SP) altera dois artigos da Constituição paradefinir que a vida começa na concepção. O texto foi aprovado por 18 votos a um e segue para plenário, onde precisa de 308 votos, em duas sessões, para seguir para o Senado.
Orientaram contra PT, PCdoB, Psol e PSS. As outras legendas orientararam a favor. Os destaques serão votados no dia 21 de novembro.
O relatório altera o artigo 7º da Constituição, para que a licença-maternidade se estenda, além dos 120 dias, ao tempo em que um recém-nascido prematuro fique internado, contanto que o benefício não passe de 240 dias.
Além desse artigo, contudo, Mudalen sugere outras duas alterações constitucionais. O artigo 1º, que trata dos fundamentos do Estado, passa a ter a expressão "desde a concepção" quando trata da "dignidade da pessoa humana". O mesmo termo foi incluído no artigo 5º, que passa a garantir "a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção".
Por usar o projeto sobre licença-maternidade para tratar de aborto, a PEC foi apelidada por movimentos sociais de "Cavalo de Troia".
Caso a PEC seja aprovada pelo Congresso e promulgada, ela não altera automaticamente as previsões legais do aborto, mas abre caminho para que isso aconteça. "É uma estratégia sorrateria porque não diz abertamente que é uma restrição ao aborto", afirma a advogada e pesquisadora do Anis – Instituto de Bioética, Sinara Gumieri.
De acordo com a especialista, se a emenda à Constituição for aprovada, ela irá criar uma insegurança jurídica, o que pode levar a um questionamento no STF (Supremo Tribunal Federal) e eventualmente a um retrocesso para o aborto legal. "Seria um respaldo para mais violações de direitos das mulheres", afirma.
Em nota, a Anistia Internacional repudiou a PEC e lembrou a tentativa de criminalização do acesso ao aborto nos casos já previstos na legislação viola obrigações do Brasil frente a tratados internacionais e que mulheres víitmas de estupro não podem ser expostas "a um tratamento degradante, cruel e de extrema violência física e psicológica".
O Estado tem o dever de garantir o aborto seguro e legal, para casos de estupro, agressão sexual ou incesto, risco à vida ou a saúde da mulher, ou comprometimento fetal grave. Além de oferecer às mulheres acesso ao atendimento de qualidade após o aborto, especialmente nos casos de aborto realizados em condições inseguras.Qualquer proposta que busque retirar o acesso ao aborto legal e seguro em caso de estupro deve ser repudiada.
Discussão
Logo no início da
sessão desta quarta, o presidente da comissão, deputado Evandro
Gussi (PV-SP) negou questão de ordem da deputada Erika Kokay (PT-DF)
sobre o fato de o relator tem acrescentado no parecer um tema além
do conteúdo original da PEC. "Essa proposição foi movida por
aqueles que acham que o corpo das mulheres os pertence, que acham que
não deve haver planejamento familiar", criticou a parlamentar.
A deputada Luiza
Erundina (Psol-SP) chamou atenção para a falta de representação
feminina na política e criticou a ação de deputados homens, quase
90% da Câmara. "Não decidam por nós. Não façam por nós.
Não legislem por nós. Isso é anticivilizatório. Isso é
antidemocratico. Isso é atrasado", afirmou.
Favorável à medida, o
deputado Pastor Eurico (PHS-PE) chegou a dizer que há uma "matança"
de fetos, uma "destruição em massa de inocentes", no
Brasil. Parlamentares a favor da PEC falaram "em defesa da vida"
e negaram restrição de direitos das mulheres.
A sessão começou por
volta de 12h15 e foi interrompida às 15h30 devido ao início da
ordem do dia no plenário. A oposição usou diversas manobras
regimentais durante a reunião à tarde a fim de adiar novamente a
votação. O colegiado voltou a se reunir às 17h30, após
interrupção nos trabalhos no plenário.
O que diz o relator
Segundo o relator, no
Brasil há uma tradição cultural e jurídica "intimamente
ligada à proteção da vida ainda no ventre materno". Ele
argumenta também que é atribuição do Legislativo e não do
Executivo decidir sobre o assunto.
Em
entrevista ao HuffPost,
Mudalen afirmou:"Essa PEC trata sobre a vida e eu já resolvi
inserir para não deixar dúvida de que o direito à vida é desde a
concepção. Quero deixar bem claro."
O
texto original dizia respeito apenas a questões trabalhistas
foi
alterado em dezembro de 2016, após decisão do presidente da Câmara
dos Deputados, Rodrigo
Maia (DEM-RJ),
pressionado pela bancada religiosa. A medida foi uma resposta ao
Supremo que, em 29 de novembro, definiu que o aborto
não deveria ser considerado crime no
primeiro trimestre da gravidez.
A
decisão tratava da revogação de prisão de cinco pessoas detidas
em uma operação da polícia do Rio de Janeiro em uma clínica
clandestina. Na ocasião o relator, ministro Luís
Roberto Barroso,
afirmou que a criminalização do aborto nos três primeiros meses da
gestação viola os direitos sexuais e reprodutivos da mulher.
O julgamento abre a
discussão das descriminalização mais geral no tribunal, mas não
liberou, na prática, o aborto no primeiro trimestre de gravidez, uma
vez que tratava de um caso específico. De acordo com Mudalen, o STF
extrapolou sua competência para tratar da questão.
Sem alarde
Há
registros de apenas três audiências públicas na comissão especial
da PEC. Nas reuniões, foram ouvidos sete especialistas, todos
contrários à descriminalização do aborto,
de acordo com o parecer de Mudalen. Entre eles, estavam integrantes
da Rede Nacional em Defesa pela Vida e da Confederação Nacional das
Entidades de Família (CNEF), além de Caio de Souza Cazarotto, autor
de dissertação intitulada "O direito à vida do Nascituro: em
busca da efetividade do direito".
Dos
28 titulares originais do colegiado, 24
já declararam abertamente ser contra a interrupção da
gravidez antes
mesmo da criação da comissão e apenas três integrantes são
mulheres.
Evangélico da Igreja
Internacional da Graça, Mudalen foi relator em 2007 do PL 1135/91,
que descriminalizava o aborto. Na época ele recomendou a rejeição
do texto e pediu o arquivamento do PL 176/95, que permitia a
interrupção da gravidez até o nonagésimo dia. Ambos os textos
foram arquivados.
Descriminalização
Atualmente
o aborto é permitido no Brasil apenas quando há risco à vida da
mãe causado pela gravidez, quando essa é resultante de um estupro e
se o feto foi anencéfelo. A última previsão foi determinada
pelo Supremo,
em 2012.
De
acordo com o Código
Penal,
as pena para quem provocar aborto podem chegar a dez anos de
detenção. A punição pode aumentar se a gestantes sofrer lesão
corporal grave ou morrer.
Pesquisa
Nacional do Aborto
(PNA) publicada em dezembro de 2016 mostrou que naquele ano, quase 1
em cada 5 mulheres, aos 40 anos já realizou, pelo menos, um aborto clandestino.
Em 2015, foram, aproximadamente, 416 mil mulheres.
"Os resultados
indicam que o aborto é um fenômeno frequente e persistente entre as
mulheres de todas as classes sociais, grupos raciais, níveis
educacionais e religiões", diz o estudo. Foi registrada maior
frequência, contudo, entre mulheres de menor escolaridade, pretas,
pardas e indígenas, vivendo nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. Assim como na PNA 2010, metade das mulheres usou
medicamentos para abortar, e quase a metade das mulheres precisou
ficar internada para finalizar o aborto.
Em março, o PSol, com
assessoria da Anis, protocolou uma Ação de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo para legalização o aborto
até a 12ª semana, independentemente da razão. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), até essa faixa temporal o
risco de complicações é de apenas 0,05%."
Votaram a
favor da PEC:
Antônio Jácome
(Podemos-RN)
Diego Garcia (PHS-PR)
Eros Biondini (PROS-MG)
Evandro Gussi (PV-SP)
Flavinho (PSB-SP)
Gilberto Nascimento
(PSC-SP)
Jefferson Campos
(PSD-SP)
João Campos (PRB-GO)
Joaquim Passarinho
(PSD-PA)
Jorge Tadeu Mudalen
(DEM-SP)
Leonardo Quintão
(PMDB-MG)
Marcos Soares (DEM-RJ)
Pastor Eurico (PHS-PE)
Paulo Freire (PR-SP)
Alan Rick (DEM-AC)
Givllado Carimbão
(PHS-AL)
Mauro Pereira (PMDB-RS)
Sóstenes Cavalcante
(DEM-RJ)
Votou contra
a PEC:
Erika Kokay (PT-DF)
Fonte: Jusbrasil /huffpost
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