sábado, 2 de julho de 2016

Primeiro-ministro do Canadá repete fenômeno Mujica e 'bomba' imagem do país

Justin Trudeau, de 44 anos está combatendo as incertezas do Canadá com saídas criativas e avançadas.

Justin Trudeau com dois filhotes de urso panda.


















Ele tem mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, todos os dias, com novas informações, por meio de fotos e vídeos que são curtidas por diversas pessoas da população do Canadá e do mundo. Já que ninguém segura mais os avanços das redes sociais.

Como o batismo de filhotes de urso panda, uma pose de ioga em estilo Matrix e o hasteamento de uma bandeira arco-íris, símbolo do movimento gay, em frente ao Parlamento canadense.

Com seis meses de governo, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, de 44 anos, é hoje o mais novo exemplo da política mundial. Sua agenda progressista, aliada a uma imagem meticulosamente pensada para soar moderna e informal, projeta uma visão arrojada do Canadá para o mundo.

Não é a primeira vez que ter um líder carismático ajuda a imagem internacional de um país. O ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica (2010-2015) projetou o Uruguai para o mundo,

"Trudeau é jovem e capaz de gerar um sentimento de otimismo numa época de incertezas e ansiedade, em que as pessoas estão inclinadas ao pessimismo", diz Stephen Toope, diretor do curso de relações internacionais da Universidade de Toronto. Bem diferente de Fernando Collor de Melo.

"É evidente que a imagem do país e de seu presidente estão entrelaçadas. Dessa forma, o Canadá transformou-se num fenômeno de popularidade por se contrapor ao discurso do medo, que domina o debate mundial desde os atentados de 11 de setembro de 2001", diz.

Pose de ioga estilo Matrix fez sucesso nas redes sociais. (Foto: Twitter/Justin Trudeau/BBC)

Na pauta relacionados ao país, estão o feminismo, após a criação de um gabinete ministerial composto por igual número de homens e mulheres. E a proteção a refugiados de guerra, uma vez que Trudeau abriu as portas para 25 mil sírios.

"A imagem projetada por ele foi muito positiva até agora. Mas a chave para o sucesso de Trudeau, e de qualquer outro governante, continua a ser a sua capacidade de administrar a economia. Ou seja, usar o seu carisma para colocar em prática ideias que vão além da geração de empregos no curto prazo, garantindo prosperidade nas décadas seguintes", diz Toope.

Justin Trudeau aparece na capa de HQ com luvas de boxe. (Foto: Marvel/Ramon Perez)

Novo Pepe Mujica?
O fenômeno midiático vivido pelo Canadá atualmente já foi experimentado por outros países. O pequeno Uruguai também viveu dias de glória graças a um líder de apelo popular. Entre 2010 e 2015, período em que foi presidido pelo ex-guerrilheiro socialista José Mujica, o país ganhou visibilidade.

Isso aconteceu graças à postura austera de Mujica, que ganhou a alcunha de "o presidente mais pobre do mundo". Tanto que, em 2013, o Uruguai acabou eleito o país do ano pela revista inglesa The Economist. Intelectuais, celebridades e jovens europeus e americanos se encantaram com o jeito de ser de Mujica, que andava num velho Fusca e doava 90% do salário de presidente.

Mujica também tomou medidas progressistas. A de maior impacto foi a regulamentação da produção, venda e consumo da maconha, algo inédito num continente acostumado à violência da guerra às drogas. Como consequência, o país passou a figurar na mídia internacional e em debates acadêmicos.

O efeito Mujica traduziu-se ainda em recordes de turismo. A pequena Montevidéu, antes à sombra de Buenos Aires, hoje é vista como uma espécie de Amsterdã graças à sua imagem de tolerância. E, com apenas 3,6 milhões de habitantes, o país recebeu em 2015 um fluxo de turistas quase tão numeroso quanto a sua população. Segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), a taxa de 808 visitantes para cada 1000 habitantes é inédita na América Latina.

"O impacto de um presidente popular sobre a imagem de um país é muito similar ao que aconteceu com a Igreja Católica. Com sua personalidade ligada às camadas populares e um discurso unificador, a ascensão do Papa Francisco revitalizou a imagem do catolicismo. Sua capacidade de conquistar público é enorme, assim como a de chamar atenção para as principais questões globais", diz Michael Mulvey, especialista em marketing do consumo e professor de publicidade da Universidade de Ottawa.

Nos últimos 20 anos, o Brasil também foi alçado ao estrelato graças à presença de governantes marcantes, como os governos FHC e Lula

"Com suas falas bem preparadas e ações, ele solidificou uma imagem de seriedade e boa administração para o público externo com interesses econômicos, acadêmicos e culturais pelo Brasil", diz Paulo Wrobel, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

"Especialmente em sistemas presidencialistas, um país ganha status internacional se ele tem uma liderança minimamente competente", diz Wrobel.

A boa fase prosseguiu durante o governo de Lula, que fugia da imagem de político sisudo e distante do público. "Ele transmitia confiança no país com seu discurso de ascensão social e redução das desigualdades", diz Wrobel à BBC Brasil. "E também um lado anedótico, pitoresco, que foi capitalizado de forma inteligente pelo próprio Lula", afirma.

Fonte: G1 e BBC Brasil em Toronto

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