FLÁVIO BOLSONARO ASSUMIU O CARGO DE SENADOR EM FEVEREIRO (FOTO: WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO)
Publicado na CartaCapital
POR CHANGE.ORG
"São
1,2 milhão de reais em movimentações suspeitas na conta de seu
principal ex-assessor, 96 mil reais em depósitos fracionados em sua
própria conta em menos de dois meses, 1 milhão de reais no
pagamento de um título bancário sem identificação do favorecido,
e três tentativas de bloquear as investigações do Ministério
Público. Em breve resumo, esse é o cenário central do escândalo
de corrupção no qual está inserido o nome do filho mais velho do
presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
O
caso provocou indignação em parte dos brasileiros que assistiram o
parlamentar, já investigado, tomar posse como senador da república
no início do ano. Uma das inconformadas com a falta de explicações
convincentes por parte de Flávio e de seu ex-assessor Fabrício
Queiroz, o principal alvo das investigações, é a professora e
atriz de teatro Vaíde Régia da Silva Reis, autora de
um abaixo-assinado que pede a cassação ou o afastamento
do senador até que o caso seja esclarecido.
“Causou-me
grande indignação ver um homem que havia acabado de ser eleito, com
promessas de beneficiar o povo, envolvido em corrupção”, comenta
Vaíde. “Não podia ficar parada. Vi na petição, por meio da
Change.org, uma oportunidade de representar o sentimento de revolta e
decepção do nosso povo diante desse escândalo. Precisamos fazer a
nossa parte, e eu busquei fazer a minha”, acrescenta.
Vaíde
utilizou a plataforma Change.org para abrir o abaixo-assinado e
conseguiu o apoio de 144,2 mil pessoas em torno do manifesto. O site
de petições online hospeda ainda outras quatro mobilizações
relacionadas à “novela” das investigações que, a cada dia, vem
ganhando novos episódios. No total, os abaixo-assinados somam 200,6
mil assinaturas contra Flávio Bolsonaro.
Na
quarta-feira 29, o capítulo que tomou os holofotes foi a
terceira tentativa do senador de tentar suspender procedimentos ou a
própria investigação – sua defesa entrou com um segundo habeas
corpus contra a quebra dos sigilos bancário e fiscal.
Anteriormente, já tinha tentado uma liminar para parar as apurações.
Para
a professora, que mora em Salvador (BA) e dá aulas de artes visuais
e plásticas e de teatro, as tentativas de Flávio Bolsonaro de
impedir as investigações deixam claro sua culpa. “Também
demonstram o desespero dele em ficar mais e mais implicado nesse
caso, o que lhe trará o real risco de perda do cargo de senador e
dos seus benefícios – as famosas mamatas”, comenta. “Como diz
a sabedoria popular: ‘quem não deve, não teme’”, completa
Vaíde, que é professora há 17 anos e também dirige e atua em
projetos de teatro, na capital baiana, fora do circuito comercial.
Vaíde
também é fundadora e coordenadora do Grupo Arte Educadores Salvador
(GAES). À frente do coletivo, representa os arte-educadores da rede
municipal de ensino e luta por melhores condições de trabalho e
valorização da arte e professores.
O
Ministério Público do Rio de Janeiro apura ainda a evolução
patrimonial do senador a partir de indícios de lavagem de dinheiro
na compra e venda milionária de dezenas de imóveis, entre
apartamentos e salas comerciais, que seriam ligados ao parlamentar.
“É totalmente incoerente, desonesto e hipócrita uma família
angariar seguidores e garantir eleitores para os seus mandatos com
base num discurso anti-corrupção, e, ao contrário disso,
revelarem-se como pessoas envolvidas com desvios de dinheiro,
transferências ilegais, esquemas ilícitos e outros crimes”,
protesta Vaíde em relação à bandeira contra a corrupção que a
família Bolsonaro adotou durante a campanha eleitoral.
Entenda o caso
O
Ministério Público do Rio de Janeiro apura os crimes de peculato
(desvio de dinheiro público), lavagem de dinheiro e organização
criminosa, que teriam ocorrido no gabinete de Flávio Bolsonaro,
entre 2007 e 2018, quando ele era deputado estadual pelo Rio.
O
caso tem raiz em uma investigação relacionada à Lava Jato, na qual
o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou
as movimentações financeiras nas contas bancárias de Fabrício
Queiroz, a partir do repasse de dinheiro de outros funcionários do
gabinete do então deputado. Depois disso, o MP abriu um inquérito
próprio.
Os
promotores tentam esclarecer se Queiroz, PM aposentado e também
ex-motorista de Flávio, que atuava como uma espécie de chefe de
gabinete quando o atual senador era deputado estadual no RJ, ficava
com o dinheiro ou o transferia ao parlamentar. Outro rumo das
apurações abrange de certa forma as milícias cariocas, já que
parentes de ex-policiais militares acusados do comando de milícias
atuaram no gabinete de Flávio.
Ao
término das apurações, o MP decide se apresentará denúncia à
Justiça.
O outro lado
A
Change.org procurou a assessoria do senador Flávio Bolsonaro por
telefone e WhatsApp. Até a publicação desta matéria, não foi
recebida resposta oficial do parlamentar quanto aos pedidos de
cassação e os abaixo-assinados.
Em
manifestações anteriores, tanto o senador quanto seu ex-assessor
sempre negaram as acusações.
Flávio
publicou uma nota no dia 13 de maio, em seu perfil oficial do
Twitter, acerca das investigações. Confira:
“O
meu sigilo bancário já havia sido quebrado ilegalmente pelo MP/RJ,
sem autorização judicial. Tanto é que informações detalhadas e
sigilosas de minha conta bancária, com identificação de
beneficiários de pagamentos, valores e até horas e minutos de
depósitos, já foram expostas em rede nacional após o chefe do
MP/RJ, pessoalmente, vazar tais dados sigilosos. Somente agora, em
maio de 2019 – quase um ano e meio depois – tentam uma manobra
para esquentar informações ilícitas, que já possuem há vários
meses. A verdade prevalecerá, pois nada fiz de errado e não
conseguirão me usar para atingir o governo de Jair Bolsonaro”
Fonte: DCM e Carta Capital
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domingo, 2 de junho de 2019
200 mil pessoas pedem a cabeça do senador Flávio Bolsonaro
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